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terça-feira, 16 de setembro de 2025

Análise dos Títulos de Livros Espíritas


 “Mais que palavras, os títulos refletem tendências, influências e o futuro da literatura espírita no país.”

Introdução

A literatura espírita brasileira constitui um patrimônio cultural de grande relevância, refletindo a evolução do movimento espírita ao longo de mais de um século. Uma lista de 7.832 títulos atualmente em circulação oferece a oportunidade de identificar tendências, ausências e peculiaridades da produção nacional.
Este artigo propõe-se a analisar o conteúdo simbólico e temático dos títulos, considerando-os como indicadores das preocupações, valores e prioridades do Espiritismo no Brasil. A investigação evidencia tanto a riqueza do material produzido quanto lacunas que podem orientar reflexões para o futuro.

Objetivos

  • Mapear as palavras e temas mais recorrentes nos títulos espíritas brasileiros.
  • Categorizar a produção em eixos temáticos (místico, religioso-devocional, bíblico-evangélico, doutrinário-filosófico, autoajuda espiritual, histórico-biográfico, juvenil).
  • Identificar ausências significativas, sobretudo em áreas ligadas à investigação crítica, filosofia e diálogo com a ciência.
  • Estimular o debate sobre como a literatura espírita pode recuperar o espírito de pesquisa e questionamento presente em Kardec e na Revista Espírita.

Metodologia

  1. Corpus analisado: lista com 7.832 títulos de obras espíritas brasileiras (excluídas obras de Kardec e de autores estrangeiros).
  2. Análise lexical: identificação das palavras mais frequentes nos títulos, desconsiderando artigos e preposições.
  3. Classificação temática: agrupamento dos títulos em categorias semânticas a partir de palavras-chave.
  4. Análise crítica: comparação entre os temas recorrentes e aqueles esperados de uma doutrina que se declara investigativa, aberta ao progresso das ideias e da ciência.
  5. Interpretação: contextualização dos resultados dentro da história do movimento espírita brasileiro.

 “Cada título é uma porta aberta para compreender como pensamos, sentimos e vivemos a espiritualidade.”

Desenvolvimento temático (esboço inicial)

Conceitos mais frequentes

  • Amor, vida, espírito, luz, Jesus, coração, Deus, esperança, perdão.
  • Predominância de termos afetivos e cristãos-evangélicos.


30 palavras mais frequentes nos títulos

(excluídas preposições e artigos comuns como “de”, “em”, “para” etc.)

  1. Amor
  2. Vida
  3. Espírito / Espírita / Espiritismo
  4. Luz
  5. Jesus
  6. Alma / Almas
  7. Coração
  8. Deus
  9. Evangelho
  10. Cristo / Cristã(o)
  11. Morte / Desencarnação
  12. Esperança
  13. Família
  14. Céu
  15. Terra
  16. Tempo
  17. Criança / Juventude
  18. Saudade
  19. Libertação / Liberdade
  20. Consciência
  21. Paz
  22. Perdão
  23. Saúde / Doença / Depressão
  24. Reencarnação / Vidas passadas
  25. Mensagem / Cartas
  26. História / Histórias
  27. Caminho / Caminhos
  28. Obssessão / Desobsessão
  29. Mediunidade / Médiuns
  30. Lar / Casa


Distribuição temática

  • Doutrinário-filosófico: 35%
  • Religioso-devocional: 20%
  • Bíblico-evangélico: 15%
  • Autoajuda espiritual/psicológica: 12%
  • Histórico-biográfico: 8%
  • Juvenil/infanto-juvenil: 6%
  • Místico/esotérico: 4%

Ausências significativas

  • Escassez de títulos sobre método científico, crítica doutrinária, questionamento filosófico.
  • Pouquíssimas referências à Revista Espírita ou aos clássicos além da Codificação.
  • Raridade de diálogos com autores como Léon Denis, Delanne, Flammarion.

 Interpretação cultural

  • A literatura espírita brasileira privilegia a função consoladora e religiosa, em detrimento da função investigativa e filosófica.
  • Isso molda o público leitor, reforçando sentimentos e devoção, mas limitando o estímulo à crítica construtiva.

Temas raros ou praticamente ausentes

Investigação crítica e questionamento

  • São raríssimos títulos com ênfase em debate, crítica construtiva ou revisão doutrinária.
  • Exceções pontuais: “Repensando o Movimento Espírita no Brasil”, “Revisão ou Reafirmação do Espiritismo”, “Revisão do Cristianismo”
  • Mas a regra geral é a ausência desse tom investigativo que deveria ser natural numa Doutrina que não se considera “palavra final”.

Revista Espírita e fontes históricas

  • Há um ou outro título que cita explicitamente Kardec fora da Codificação, como “Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec” 
  • Entretanto, referências diretas à Revista Espírita ou a estudos comparativos com Léon Denis, Delanne, Gabriel Dellane etc. são praticamente inexistentes.

Pesquisa filosófica aprofundada

  • Poucos títulos remetem a estudos sistemáticos de filosofia, lógica ou epistemologia.
  • A filosofia aparece diluída em termos como “destino”, “consciência”, “vida”, mas sem esforço de aprofundamento crítico.

Temas de ciência e metodologia

  • Embora haja títulos com “ciência”, “psicologia”, “física quântica”, eles aparecem muito mais como tentativa de legitimação do Espiritismo perante a ciência do que como um diálogo investigativo.
  • Títulos que abordem “método científico”, “crítica de fontes” ou “estudos comparativos” são praticamente inexistentes.

 O que isso sugere?

  • A literatura espírita brasileira priorizou consolo, fé e evangelho em vez de crítica, pesquisa e filosofia comparada.
  • O movimento editorial valoriza muito mais o emocional (esperança, saudade, amor, luz) do que o racional investigativo.
  • Há uma lacuna formativa: o leitor espírita tem fartura de romances, mensagens e livros de consolo, mas quase nenhuma oferta de obras que o estimulem a questionar, comparar fontes, analisar metodologicamente.

 Caminhos para preencher essa ausência

Incentivar obras críticas e investigativas que dialoguem com a Revista Espírita e com autores clássicos além de Kardec.

Produzir títulos que tragam questões abertas:

·  “O que ainda não sabemos sobre o perispírito?”

·  “O Espiritismo resiste ao método científico?”

·  “Comparações entre a Revista Espírita e a literatura atual”.

Promover a ideia de que questionar é a forma de estimular o crescimento da Doutrina e honrar Kardec.

 

Sugestões de títulos de livros que poderiam ser escritos

Investigação e crítica construtiva

  • “Espiritismo em Debate: O que Sabemos, o que Ignoramos”
  • “A Crítica Construtiva como Caminho Espírita”
  • “O Espírito Crítico de Kardec e sua Atualidade”
  • “Erros, Acertos e Lacunas: o Movimento Espírita em Análise”
  • “O Método Investigativo no Espiritismo”

 Revista Espírita e fontes além da Codificação

  • “Revista Espírita: O Laboratório de Kardec”
  • “O que Kardec Pesquisou e Ainda Ignoramos”
  • “Da Revista Espírita à Atualidade: Experiências de Pesquisa”
  • “Léon Denis e o Brasil Espírita: Um Diálogo Esquecido”
  • “Outros Clássicos, Novas Leituras: Delanne, Flammarion e a Pesquisa Espírita”

 Aprofundamento filosófico e científico

  • “Espiritismo e Epistemologia: O que Significa Conhecer?”
  • “Método Científico e Pesquisa Espírita: Possibilidades e Limites”
  • “O Problema do Mal na Perspectiva Espírita”
  • “Liberdade, Determinismo e Reencarnação”
  • “A Filosofia Espírita diante da Ciência Moderna”
  • “Diferenças entre André Luiz e Kardec”

Questões contemporâneas

  • “Espiritismo, Ética e Sustentabilidade Planetária”
  • “Saúde Mental e Espiritualidade: Além da Autoajuda”
  • “Tecnologia, Inteligência Artificial aplicada”
  • “A Religião dos Espíritos em uma Sociedade Secularizada”
  • “O Futuro do Movimento Espírita: Cenários e Hipóteses”

Esses títulos imaginários mostram que o Espiritismo brasileiro ainda tem vastos campos pouco explorados — e que resgatar o espírito questionador de Kardec é talvez uma das tarefas mais prementes para o século XXI. 

Os títulos dos livros espíritas brasileiros são retratos da alma coletiva de nosso movimento.”

Reflexões finais – um olhar para o futuro

A análise dos títulos dos livros espíritas brasileiros revela uma produção ampla, rica e diversificada, mas também marcada por lacunas significativas. A predominância de termos ligados ao consolo emocional e à tradição cristã mostra um Espiritismo que se apresenta mais como religião de acolhimento do que como filosofia de investigação.

Retomar o espírito questionador de Kardec, revalorizar a Revista Espírita e incentivar estudos críticos e filosóficos são caminhos que podem equilibrar a produção literária.

Mais do que identificar o que já existe, este levantamento aponta para o que ainda precisa ser escrito: obras que inspirem crítica construtiva, comparações históricas, diálogo com a ciência e aprofundamento filosófico.

Assim, o Espiritismo brasileiro poderá enriquecer seu acervo e manter-se fiel ao princípio de ser uma doutrina em constante evolução, sem a pretensão da última palavra.



domingo, 18 de julho de 2021

Quantos são os Espíritas no Brasil e no Mundo?

Somos menos que pensamos!

Uma pessoa espírita costuma ter relacionamentos também espíritas, frequenta um Centro Espírita, participa de eventos presenciais e online com muitos outros espíritas de todo o Brasil e do mundo! Recebe mensagens, assiste filmes, vê vídeos, sites, portais, lê livros, jornais, revistas, blogs, etc.

Segundo a pesquisa Mercado Editorial Espírita 2017, o movimento espírita tinha, neste ano, 8.407 títulos de livros escritos por 1.691 autores, em mais de vinte gêneros e produzidos por 181 editoras espíritas.

Tudo isso dá a impressão de que os espíritas são muitos, mas, a realidade mostra um grupo atuante, embora ainda pequeno.

Este estudo procura se fundamentar em fatos e se aproxima bastante da realidade, indicando que há inúmeras oportunidades para oferecer o conhecimento espírita a muitas pessoas e, assim, ajudar, não só a manter viva a doutrina, mas favorecer o seu crescimento e desenvolvimento.

Não é tarefa das federativas, das instituições espíritas, mas de todos os espíritas. 

Os espíritas brasileiros

Segundo o Censo 2010, pesquisa elaborada com critérios científicos, os espíritas brasileiros são 2% de uma população, estimada em junho de 2021 pelo IBGE[i] em 213.200.000. Este percentual representa, nesta data, 4.264.000 de espíritas.

Em 1991, os espíritas eram 1,12% e no Censo 2000 passamos para 1,38%.

Os evangélicos alcançaram 22,2%, os católicos caíram para 64,6% e aqueles que se declararam sem religião totalizaram 8,0% dos brasileiros. Todas as outras religiões estão nos 3,2% restantes, incluindo as respostas “não sabe/não declarou”.

A idade média do espírita foi de 37 anos no Censo 2010 e está atingindo 50 anos na PNP – Pesquisa Nacional para Espíritas 2021. A presença de jovens nas casas espíritas tem fortes indícios de estar em baixa há, pelo menos uma década. Boa parte dos novos espíritas possuem mais de 40 anos.

Entrando menos pessoas jovens, o ciclo perde alimentação e o movimento pode baixar gradativamente o número de espíritas. Fator preocupante. Será necessário realizar ações e campanhas de comunicação por todo o Brasil, além da atuação em pontos específicos que, certamente, poderão colaborar com essa evasão.

Pontos como uma gestão mais moderna das instituições, descentralizando decisões, oferecendo aos jovens a oportunidade do serviço com responsabilidade e também com a autoridade equivalente. Manter a casa sempre aberta ao diálogo, criando canais facilitadores com seus trabalhadores e frequentadores. Oferecer espaço para a análise doutrinária das questões sociais atuais e rever eventual posicionamento excessivamente religioso no padrão das religiões tradicionais, uma vez que a doutrina é religião apenas do ponto de vista da filosofia. Criar a mentalidade da autonomia moral espírita, que privilegia a liberdade e o aprendizado, longe das ideias de recompensa e punição.

Distribuição da população por sexo e faixas de idade 2010


Somos, no total, apenas 2% da população, mas 21 estados estão com índice menor, sendo 13 com menos de 1%. Maranhão é o estado com menos espíritas, com percentual de 0,19%.

Em relação ao Censo anterior de 2000, temos quatro quedas nos estados de Goiás (-12,43%), Mato Grosso (-5,76%), Pará (-17,13%) e Amazonas (-7,65%).

Rio de Janeiro é o estado com mais espíritas (4,05%), seguido do Distrito Federal (3,5%), São Paulo (3,29%) e Rio Grande do Sul (3,21%).

Quadro Espíritas por Estado - Evolução


Ficamos na expectativa do resultado do Censo 2022, que deveria ter sido feito em 2020! Será que os espíritas aumentarão, permanecerão no mesmo patamar, ou diminuirão?


A questão dos simpatizantes do espiritismo no Brasil

Talvez para compensar a pequena participação dos espíritas no Brasil (2% no Censo 2021), as estimativas sobre o número de simpatizantes do espiritismo atingem cifras elevadas de 20 e até 30 milhões.

Devem ser considerados como simpatizantes, não apenas aqueles que frequentam esporadicamente as casas espíritas, mas, sobretudo, aqueles que demonstram interesse com alguns princípios e conceitos espíritas, leem livros e participam de redes sociais espíritas.

É verdade que a mídia aprecia bastante temas espiritualistas também adotados pela doutrina, como reencarnação, comunicação com os espíritos e outros vinculados pela sociedade ao espiritismo, mas que na compreensão Kardequiana apresenta entendimentos muitas vezes bastante diferentes, como punição, castigo, causa e efeito, trevas, umbral, cidades espirituais, passe, etc.

Pesquisas comprovam a simpatia por parte do povo brasileiro à essas temáticas, mesmo que suas religiões possam não concordar.

Temos de considerar, contudo, que parte significativa desses simpatizantes, procuram as casas espíritas, mais pela possibilidade de receber uma ajuda, do que pelo interesse em sua filosofia ou de melhor compreensão de alguma questão existencial.

Uma estimativa mais realista situaria os simpatizantes entre aqueles que realmente começam a cogitar a decisão de se tornarem espíritas. Dificilmente seriam mais que 1% da população, ou 50% do número atual de espíritas. O que já pode ser considerado uma estimativa otimista.


Centros Espíritas no Brasil


Foto: Jornal Mundo Espírita

São otimistas as estimativas na internet, variando entre 15 e 20 mil Centros Espíritas no país.

Dados mais realistas, contudo, apontam para um montante menor e uma situação até preocupante.

Segundo Pesquisa Instituições Espíritas no Brasil, de 2020, baseada na base de CNPJ e código de atividade (CNAE), a quantidade de instituições espíritas é 11.916. Esse número considera todo o tipo de organização espírita, como fundação, associação, abrigo, creche, orfanato, hospital e apenas os CNPJs ativos.

Como esse levantamento foi feito antes da pandemia, é provável que o número de Centros Espíritas seja menor, pois, muitos acabaram fechando ou paralisando suas atividades.

Foram encontradas 2.592 casas espíritas que não existem mais, registradas como “baixadas”, a maioria entre 1990 e 2020, o que representa uma média de 86 instituições extintas por ano.

Por outro lado, é muito baixa a participação nos 5.568 municípios brasileiros, apenas 41%, sendo que 3.287 cidades (59%) não possuem registro da presença de nenhuma instituição espírita.

Existem quase ¾ de casas espíritas nas capitais e ¼ nas cidades do interior.

Quadro Centros Espíritas por Estado – Capital e Interior

Legenda: o Distrito Federal é a menor unidade federativa brasileira e a única que não tem municípios.

Acre, Amapá e Roraima são estados com menor número de Centros Espíritas.


Centros Espíritas no Mundo



Este estudo foi feito a partir do levantamento de Elsa Rossi (2013) revisado no Congresso em Santa Cruz de La Sierra em 2019, e atualizado agora através de consultas à espíritas e entidades representativas dos países, pela internet e e-mail[i].

A atualização dos dados foi marcada pela dificuldade da obtenção dos números atuais de Centros Espíritas em cada país e conseguir desconsiderar instituições que praticam um Espiritismo claramente desvirtuado em alguns de seus princípios e com forte sincretismo com outras doutrinas e seitas locais, como podemos destacar em Cuba, Porto Rico e Venezuela.

Países da Europa, Estados Unidos e Canadá possuem a maioria das instituições espíritas mantidas e frequentadas por brasileiros residentes. Quase todas tiveram de adaptar o modelo brasileiro à cultura local, atenuando tanto quanto possível, a ênfase no Religiosismo tradicional, para conseguir alguma adesão dos nativos.

Após mais de 160 anos de existência do espiritismo, identificamos apenas 740 instituições espíritas em 55 países. O levantamento, em sua origem, apresentava número superestimado, com mais de 1800 Centros Espíritas no exterior.

A mídia encontra sempre projeções superestimadas para publicar, chegando a estimar em 13 milhões o número de espíritas no mundo[ii], dado que não encontramos fundamento.

Os 740 centros estão divididos em 55 países (excetuando o Brasil), sendo três de língua portuguesa com 10,7% dos Centros Espíritas, 15 de língua espanhola representando 44,1% dos Centros.

Em geral, são constituídos por 10 a 20 voluntários e o dobro de frequentadores. Com esses números multiplicados pela quantidade de Centros Espíritas levantados, encontramos o máximo de 44.400 espíritas que trabalham ou frequentam a instituição. Acrescentando 20% de espíritas que não estariam vinculados a nenhuma instituição, o número total de espíritas no exterior não ultrapassaria 55.000. Se quisermos contar apenas os nativos, esse número ficaria menor que 20 mil.

Kardec registrou na Revista Espírita de Janeiro de 1869, no item Proporção relativa dos espíritas: “Pode se estimar o número de espíritas do mundo inteiro em seis a sete milhões.” Isso significa que a quantidade de espíritas no planeta diminuiu após Kardec.

 Quadro Resumo de Centros por Continente

Legenda: Part. 1 = Percentuais países por continente;
Part. 2 = Percentual de Centros por continente.


Tabela dos Países com Centro Espírita


Artigo originalmente publicado em: https://abrade.com.br/quantos-sao-os-espiritas-no-brasil-e-no-mundo/


[i] Colaboraram com esse estudo diversas pessoas, destacadamente Chales Kempf, Jon Aizpurua, Eduardo Miyashiro, Júlia Nezu, Elsa Rossi e ADE-Japão.

[ii] https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47751865

[i] https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html


domingo, 9 de agosto de 2020

Resgate do Espiritismo Original de Kardec

Fatos históricos revelados recentemente demonstram que aspectos fundamentais da Doutrina Espírita podem ter sido mal-entendidos, contribuindo para a continuidade de um conhecimento espírita diferente daquele trazido por Kardec. Veja as fontes:

Muita Luz (Beaucoup de Lumière) Berthe Fropo, Paris 1884 e São Paulo 2017. O Legado de Allan Kardec (2018), Simoni Privato Goidanich. Revolução Espírita - a teoria esquecida de Allan Kardec (2016), Mesmer - a ciência negada do magnetismo animal (2017), Autonomia - A História Jamais Contada do Espiritismo (2019). Paulo Henrique de Figueiredo.

Este é um texto-convite para o leitor estudar o assunto. Caso conclua pela veracidade parcial ou total saberá da importância de auxiliar a divulgação para que mais pessoas tenham a oportunidade de resgatar o Espiritismo original.

É um trabalho difícil que vai encontrar muitos obstáculos. Enfrentará desinteresse, preconceito e até certa hostilização. Dificuldades compreensíveis, pois, todos os espíritas brasileiros foram educados a partir de livros e espíritas formadores de opinião que também tiveram os mesmos desentendimentos ou que não se ativeram a esses pontos.

Tendo um certo interesse em saber mais, não deixe de investir algum tempo para ler e estudar de mente aberta. O resultado poderá trazer nova compreensão ou reafirmar convicções contrárias. Provavelmente deverá ocorrer a primeira hipótese.

Não se trata de atacar autores e livros, mas do estudo e entendimento da proposta original, o que poderá identificar discrepâncias de ideias, conceitos e argumentos.

Aspectos fundamentais para a compreensão do Espiritismo precisam de revisão urgente, sob pena de vivenciarmos um falso espiritismo. Conceitos como da moral espírita, lei de causa e efeito, provas e expiação, culpa, castigo, livre arbítrio, reencarnação, o mecanismo do passe, o processo de cura e outros.

Alguns momentos históricos moldaram a compreensão atual da doutrina. Foram decisivos para mudar a maneira de entender diversos pontos essenciais do espiritismo. Veja:

França 1 – Publicação de Os Quatro Evangelhos - Espiritismo Cristão ou Revelação da Revelação em Paris, 1866, por Jean-Baptiste Roustaing (1805 – 1879).

França 2 – Empenho de Pierre-Gaëtan Leymarie (1827-1901) para difundir a obra de Roustaing no meio espírita.

Brasil 1 – os dois baianos.

Francisco Antônio Pereira da Rocha foi um consagrado advogado baiano, Doutor pela Universidade de Coimbra, a quem Kardec ofereceu o título de membro da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e os direitos de tradução de OLE em 1860. Por algum motivo não desenvolveu ações em favor da divulgação do espiritismo.

Luís Olímpio Teles de Menezes, fundou (17/09/1865) em Salvador, o primeiro grupo espírita no Brasil e lançou o primeiro periódico de conteúdo espírita (1869) mesclado com muito texto e ideias católicas. Tendo iniciado no espiritismo, ainda continuava católico.

Brasil 2 – Grupos espíritas no RJ na década de 1880.

Nessa década, um pequeno, mas influente grupo de espíritas recém iniciados no espiritismo e marcados por um profundo sentimento religioso nascido no catolicismo, intencionaram fundar no Brasil o espiritismo como uma nova religião, tendo por base as obras de Kardec e Roustaing.

Eram oriundos do Grupo dos Humildes e Grupo Ismael. Espíritas ilustres que tiveram uma interpretação equivocada da Doutrina por meio das comunicações trazidas pelo médium Frederico Júnior e que influenciaram a FEB - Federação Espírita Brasileira que, por sua vez, induziu fortemente os textos de quase todas as obras espíritas.

Em 1893 Saião publicou o livro “Trabalhos espíritas de um pequeno grupo de crentes humildes” reunindo relatos de 59 sessões em que ficam evidenciados os equívocos das mensagens mediúnicas e suas interpretações.

Personalidades como: Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti (1831 —1900), Francisco Leite de Bittencourt Sampaio (1834 – 1895), Antônio Luiz Sayão (1829 – 1903), Pedro Richard (1853 – 1918), Leopoldo Cirne (1870 - 1941) a partir de 1894 e Frederico Pereira da Silva Júnior (1858-1914).

Eles participaram do embate de ideias entre os chamados “místicos” e os “científicos”, que teve seu auge nos anos 1895-1897 com a vitória dos primeiros liderados por Bezerra de Menezes. O “grupo dos científicos, ou laicos, liderados por Afonso Angeli Torteroli (1849 - 1928) fazia oposição às ideias de Roustaing e às interpretações do espiritismo dominadas pela teologia católica, mas foram vencidos pelos “místicos”.

Muitos outros momentos históricos contribuíram para sedimentar interpretações errôneas, mas vieram após os mencionados e foram por eles influenciados.

Ao longo do tempo, ocorreram muitos alertas sobre desvios que os espíritas desprezaram, de espíritas de importância como: Henry Sausse, Berthe Froppo, Gabriel Delanne, León Denis, Afonso Angeli Torteroli, Batuíra, Cairbar Schutel, Carlos Imbassahy, Silvino Canuto Abreu (posição somente agora conhecida), Carlos de Brito Imbassahy, Júlio Abreu Filho, Luciano Costa, José Herculano Pires, Deolindo Amorim, Jorge Rizzini, Wilson Garcia e Nazareno Tourinho, entre outros.

Agora as informações tornaram-se mais abundantes, interconectadas e completas, baseadas em fatos que permitem concluir pela necessidade de rever o nosso entendimento. Chegou a hora de aprofundar o estudo.





sexta-feira, 1 de março de 2019

Mercado Editorial Espírita 2017

O início desse trabalho foi em 2006, quando notei que, diferentemente de outros segmentos de mercado, não havia informações sobre a produção e venda dos livros espíritas.
A partir de uma amostra dos dados de venda de livros espíritas em 2017, foram calculados e projetados os valores para todo o mercado editorial espírita brasileiro.
A pesquisa não incluiu os livros traduzidos em outros idiomas, braile, áudio book, as produções musicais e em vídeo.
Cada livro foi totalizado somando-se todas as suas formas de edição, como:  bolso, capa dura, espiral, luxo e comemorativos. Foram contabilizados livros de mesmo autor publicados por mais de uma editora.
Foram considerados os livros vendidos pelas editoras e distribuidoras espíritas, caracterizados como espíritas ou de interesse para o espiritismo.
A pesquisa retirou as obras espiritualistas, teosóficas, cristianismo católico, autoajuda, Reiki, filosofias orientais e Umbanda. Foram acrescentadas algumas editoras não espíritas para incluir os livros de autores espíritas por elas editados.
O mercado de livros espíritas está inserido no mercado editorial geral que vive anos de queda de produção e consumo.
Em 2017, o mercado editorial brasileiro viu seu faturamento cair 1,95% e em 2016 tinha reduzido 5,2%. Mesmo assim, as editoras brasileiras venderam 222 milhões e faturaram quase 4 bilhões nas vendas ao mercado. O total de exemplares produzidos caiu 7,94% em 2017.[1] Os livros religiosos, embora com queda, alcançaram mais de 70 milhões de exemplares produzidos.
Estamos falando de um mercado de baixo consumo de livros. De acordo com a Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro – Base 2016, o brasileiro lê pouco, em média 2,43 livros inteiros por ano.
Além disso, é forte o analfabetismo funcional[2], sendo que apenas 12% dos brasileiros conseguem ler e compreender textos simples, que dirá dos textos espíritas de Allan Kardec, Léon Denis, Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, entre outros, que usam palavras arcaicas e eruditas.
Os compradores visados para os livros espíritas são os próprios que constituem apenas 2% da população (4,2 milhões) segundo o Censo 2010 e os simpatizantes que não há estatística a respeito e que deve representar três a cinco vezes o contingente dos espíritas (12,6 a 21 milhões de pessoas).
Estamos em minoria no país, e o mercado de livros espíritas é muito reduzido. Os brasileiros evangélicos são dez vezes mais que os espíritas (22,2%), os católicos mais que trinta vezes (64,6%) e os sem religião quatro vezes mais que os espíritas.
Os Censos do IBGE e de outras pesquisas também caracterizam o espírita com mais anos de estudo e com média anual mais elevada de livros lidos que do brasileiro, fator que provavelmente faz a diferença.
Segundo Pesquisa para Espíritas de 2018 realizada com 3926 pessoas de 735 cidades, 34,2% leram entre 3 a 5 livros nos últimos doze meses, 20,5% leram seis a dez livros e 18,7% leram mais que dez livros. Preferem comprar livros novos (64,4%) e compram principalmente nos Centros Espíritas (45,1%) e em Livrarias Espíritas (18,7%). Um pequeno grupo (7,2%) já aparece dando preferência à leitura de livros digitalizados.
A publicação e comercialização de livros espíritas em 2017 teve bom resultado. O número de títulos publicados em onze anos quase foi dobrado, passando de 4.330 em 2006 para 8.407 livros em 2017. Foram identificados 166 títulos repetidos e utilizados por outros autores, o que não deveria ocorrer.
Os livros mediúnicos tiveram uma pequena redução, representavam 40% e em 2006 e 37,9% em 2017. Foram identificados 434 autores médiuns.
A estimativa, baseada em projeções é que o faturamento tenha alcançado pelo menos 73 milhões de reais com 3,3 milhões de livros vendidos.
As editoras consideradas espíritas caíram no mesmo período de 205 para 181. Isso se deve ao encerramento de várias editoras que existiam mais na documentação que de fato. Algumas foram criadas para viabilizarem o sonho de ter um livro publicado.
Os autores de livros espíritas aumentaram 59%. Eram 998 em 2006 e são 1.691 em 2017, considerando-se todos os Autores e Médiuns, descontando-se as sobreposições.

Veja pesquisa completa clicando em:




[1] Realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a pedido da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).
[2] https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46177957