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quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Duas coisas parecem destoar no Espiritismo

Supervalorização da doutrina

Ataques dos inimigos do espiritismo


Ao estudar a doutrina podemos facilmente identificar esses dois pontos presentes desde a codificação até as obras atuais. Como foram mencionados pelos Espíritos e pelo próprio Kardec temos a impressão de que se trata de uma verdade inquestionável, será? Não é o espiritismo uma doutrina de investigação? Poderão essas afirmações terem outra interpretação? Esta é uma oportunidade para reflexão.

Supervalorização da doutrina

Decorre de alguns entendimentos que podem estar equivocados:

·      De que o próprio Jesus trouxe a revelação dos espíritos e conduz diretamente o desenvolvimento e disseminação do espiritismo. Sendo ele um espírito puro que teria a responsabilidade pelo planeta Terra desde sua criação há 4,5 bilhões de anos, certamente cuidaria com igual atenção e zelo todos os grupos religiosos e agnósticos, não em especial aos cristãos que somam cerca de ¼ da população mundial e, menos ainda aos espíritas que constituem 0,01% da população mundial.

·      Que se trata da terceira revelação e que ela é derradeira e destinada a mudar o mundo! Embora tenham ocorrido milhares de revelações ao longo da história, em todos os campos do conhecimento, em todos os países e continuarão a acontecer indefinidamente. Dificilmente a Doutrina Espírita afetaria para melhor o mundo inteiro por várias razões. A primeira é que o planeta comporta pessoas em diferentes estágios de evolução moral e interesses, formando culturas muito diferentes e antagônicas entre si. A segunda é que o espiritismo é completamente desconhecido no mundo e aqueles poucos que o conhecem, confundem com mistificação e superstição.

·      Que se trata do Consolador prometido, do Espírito de Verdade, na tentativa de se apropriar de uma profecia evangélica que elevaria sua credibilidade em uma análise superficial. Como as revelações continuam a acontecer, no futuro outras religiões e filosofias poderão ter mais elementos para também justificar a posse desse título. Realmente o espiritismo tem explicações que consolam, mas outras religiões e filosofias também possuem e agregam muito mais pessoas.

Em muitos momentos da história, o homem procurou se acomodar na imagem de escolhido ou especial, com privilégios sobre os outros e isso teve sempre resultados ruins. Talvez o principal seja de suscitar o orgulho e a vaidade e acabar tratando os diferentes como inferiores ou ruins.

Gostamos das explicações espíritas, entendemos que elas reúnem um conjunto de conhecimentos bem estruturados que respondem às nossas dúvidas e anseios. Segundo a moral espírita baseada na autonomia, o processo de aprendizado deve ocorrer por vontade própria individualmente e, não por imposição externa.

Como disseram os espíritos, a verdade está distribuída por todas as ciências, filosofias e religiões. E a parcela de verdade presente em cada uma é suficiente para conduzir os seguidores à prática do bem. O Espiritismo é apenas mais um caminho que pode servir a alguns e não se adequar a muitos mais.

Esse tipo de argumentação constitui a falácia de autoridade, que apela para a palavra ou reputação de alguma autoridade a fim de validar uma proposição. É um raciocínio errado que se baseia exclusivamente na credibilidade do autor e não nas razões que teria para sustentar a proposição.

Em toda a obra espírita, Kardec se mostrou lógico e ponderado usando sempre argumentos fundamentados, repudiando os dogmas, sofismas e falácias. Teria ele sucumbido ao peso da tradição cristã ou da pressão social?

Um ensinamento deve ser relevante por sua argumentação lógica, e não pela credibilidade de quem o emitiu.

O espiritismo tem um conhecimento fundamentado com método, consistente, abrangendo o campo espiritual com mais propriedade do que outras correntes de pensamento. Isso é mais que suficiente para legitimar suas ideias. Qualquer menção que denote superioridade trará mais prejuízo do que benefícios.

Ataques dos inimigos do espiritismo

Segundo a etimologia, a palavra "adversário" vem do latim (adversarius), significando "que está contra". Ela se confunde com a palavra "inimigo" que também provém do latim (inimicus) e significa "amigo ruim".

As religiões tradicionais foram as primeiras a criarem a figura dos adversários, oponentes ou mesmo inimigos, que não só estariam completamente errados, mas imbuídos da mais pura maldade lutando contra os seus verdadeiros e sublimes objetivos.

Na psicologia e na sociologia, a criação de um inimigo coletivo, valoriza o grupo e aumenta sua coesão. A política usa e abusa do recurso escuso da criação de inimigos para manipular seus eleitores.

O pano de fundo é a presunção de estar com a única verdade existente, o que leva a uma falsa percepção de superioridade, despertando orgulho e vaidade.

Incita ao enfrentamento, à luta ou ao distanciamento, e não ao simples e necessário debate das ideias. Essa postura leva ao despertamento de sentimentos negativos, como o medo e a hostilidade.

Segundo a medicina, a identificação de indivíduos não pertencentes ao grupo como inimigos é irracional e pode constituir um transtorno mental requerendo urgente tratamento para sua cura.

Os espíritos encarnados possuem livre arbítrio e motivações que geram suas próprias conclusões ou preferências, endossando ou rejeitando outras linhas de pensamento por meio de embates mais ou menos agressivos, segundo seus temperamentos. A maior parte não age por perversidade, mas por acreditar que está com a razão. É dessa discussão que as ideias evoluem.

Após a morte, os espíritos continuam os mesmos e as controvérsias persistem. Não parece correto tratar todos que defendem um entendimento diverso como inimigos hostis, embora existam aqueles ainda dominados por sentimentos negativos, mais interessados em perturbar e causar discórdias.

Esses últimos precisam ser conduzidos à verdade não pelo caminho da hostilidade, da discriminação, mas pelo trabalho incessante no bem.

Ivan Franzolim


terça-feira, 20 de junho de 2017

Momento de Dúvidas

Quando surgem incertezas elas exigem reflexão
para o restabelecimento da harmonia mental

Momento de Reflexão
Foto de: www.chronicle.com/article/Beyond-Critical-Thinking/63288
Estive lendo alguns livros e vendo documentários sobre vários assuntos, particularmente a respeito do cosmos, da história, da ciência e sobre alguns dos quase 200 países que desconhecemos por completo ou temos uma rápida e muito superficial visão.

Os documentários sobre nações destacam os pontos positivos e os problemas de cada nação. Problemas graves que estão sendo atenuados por diversas frentes de voluntariado, ligadas a várias religiões e também independentes. Trabalhos relevantes que podem servir de inspiração aos espíritas.

Sobre o Brasil, quantas regiões diferentes, culturas distintas, problemas gravíssimos que perduram há anos reclamando ações mais efetivas de voluntários e que os espíritas se esforçam em algumas poucas áreas. No ranking internacional de 2016, o Brasil alcançou a modesta posição de 83° lugar entre os países em que os cidadãos são mais generosos com os mais necessitados. Dado que parece distar do país designado para ser a “pátria do evangelho”.

Com relação ao espaço universal, o conhecimento existente, ainda escasso, mostram números verdadeiramente astronômicos. Estima-se que o universo observável por nossos equipamentos, deve ter mais de 200 bilhões de galáxias, cada uma com mais de 100 bilhões de estrelas.

A ciência, costumeiramente criticada pela religião, avança no conhecimento esbarrando na fronteira entre o real e o fantasioso: big bang, curvatura do tempo, teoria das cordas, multiverso, matéria escura, buraco negro, antimatéria, dualidade onda-corpúsculo.

Isso sem falar nos avanços científicos impondo mudanças no nosso cotidiano que nem prestamos mais atenção: tecnologia dos chips, das comunicações, a genética interferindo na eliminação ou atenuação das doenças, no retardamento do envelhecimento, e na agricultura.

Essas informações fazem-me fazem sentir como um minúsculo grão de areia, munido da certeza que temos uma imensidão de oportunidades para o aprimoramento dos nossos conhecimentos em todos os sentidos, inclusive o espírita.

E a história? Persisti em nos alertar sobre o erro que a civilização sempre incorreu e ainda não aprendeu: sentir-se o maior, o melhor, o único verdadeiro em todas as áreas, no poder, na política, no conhecimento, na religião, etc.

O espiritismo compreende a divindade como um único Deus, realmente como o próprio nome denuncia: todo-poderoso, inteligência, sabedoria e generosidade totais. Não parece coerente com esses atributos, um Deus que restrinja a um povo, uma região, uma época, uma religião, uma pessoa, o privilégio do acesso às leis morais melhor elaboradas.

A partir de uma visão de marketing, podemos enxergar o mundo como um grande mercado que apresenta bens e serviços para todo o tipo de público. É verdade que temos produtos ruins, mas também possuímos aqueles de ótima qualidade. Vejamos, por exemplo, as geladeiras. Existem várias marcas, variando no design, cores e algumas funcionalidades, resolvendo nossa necessidade de conservar e gelar alimentos e bebidas.

Por que nos acostumamos a pensar que as verdades morais mais completas se encontram apenas no espiritismo? Precisamos nos envolver em uma onda de humildade e questionar algumas colocações espíritas que soam aos ouvidos leigos como arrogantes. Não só pela preocupação com a imagem externa da doutrina, mas pela perturbação que esses pensamentos podem ocasionar em nosso modo de pensar e agir.

Pensamentos como: somos a terceira revelação, o consolador prometido, continuador do verdadeiro cristianismo, a chave para revelar o conhecimento de Jesus, a verdadeira doutrina de Jesus. São expressões oriundas das melhores intenções, mas também ufanistas independentemente da suposta autoridade de quem as manifeste. Não é por essas afirmações que a Doutrina Espírita deve ocupar um lugar de respeito na sociedade, mas pela consistência de seus ensinamentos e das consequências morais advindas.

Neste momento de dúvidas dou razão a Sócrates apresentado por Platão quando salientou que “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância” ou “Só sei que nada sei”. Lembro também de alguns pensamentos de outro filósofo bem mais recente, Bertrand Russell: “Não tenhas certeza absoluta de nada”. “O problema do mundo é que tolos estão sempre cheios de certezas, enquanto os sábios estão sempre cheios de dúvidas”.

A Doutrina Espírita sendo recente, com menos de 200 anos, teve o mérito de reunir e dar sentido a muitos conhecimentos que já existiam no mundo, distribuído por filosofias, ciências, religiões. Desenvolveu alguns, estabeleceu conexões com outros, demonstrou consequências.

Podemos chamar genericamente esses conhecimentos como “verdades”. Assim, é possível afirmar que o espiritismo contém muitas, mas não tem todas as “verdades”. Além disso, o fato de considerarmos que temos um acervo maior de “verdades” que outras doutrinas, não nos isenta de convivermos com erros, omissões e interpretações equivocadas.

O espiritismo é uma doutrina racional de questionamento, baseada na lei de evolução. Não foi apresentada completa, acabada, mas com uma estrutura forte o suficiente para permitir o seu desenvolvimento.

Por isso, talvez seja melhor tratarmos as controvérsias surgidas na apreciação do conhecimento espírita, como hipóteses que carecem de confirmação como verdadeiras, do que como infidelidade doutrinária. Aliás, essa expressão é própria de um conhecimento estático, que não evolui.

O espiritismo não é uma religião salvacionista, apesar de adotar como instrumento de comunicação a frase: “fora da caridade não há salvação”. Na doutrina espírita não existem listas do que você pode ou não fazer. Há orientações baseadas nas leis espirituais estudadas.

Diferentemente das outras religiões, nossa doutrina afirma que o mais importante são as ações em harmonia com as leis naturais, não a religião que cada um assume.

Isso significa que não devem ser considerados como errados, os grupos espíritas que prefiram vivenciar os ensinamentos pelo caminho da filosofia, da ciência, da religião, da pedagogia, da mediunidade, etc.

Essas diferenças de foco são benéficas, à medida que atingem pessoas, que não seriam afetadas por uma única maneira de enxergar a doutrina. Lembram das boas geladeiras?

Naturalmente precisamos nos esforçar para debater as diferenças de entendimento visando o aprofundamento e a consolidação gradual do conhecimento espírita.

Para isso será preciso uma postura mais crítica de todos os espíritas, fundamentada em pelo menos dois critérios básicos: a lógica e a fraternidade. Não basta ter opinião. É preciso ter ou buscar argumentos solidamente conectados com o conhecimento espírita. As opiniões que incorrem em mudar a forma como entendemos ser correta a doutrina, raramente possuem a humildade de se apresentar como uma proposição de trabalho convidando todos a esmiuçarem suas possibilidades.

As obras de Kardec são a base, e temos o desafio de imprimir amplo e profundo debate a todas as mudanças apresentadas por meio dos livros e da manifestação dos espíritas nas mídias sociais até sua concordância ou rejeição por linhas de raciocínio irrefutáveis logicamente e libertas de argumentos falaciosos. Não é fácil, mas é o único caminho.
Esses são apenas pensamentos em momento de dúvidas pedindo reflexão. E você caro leitor, quais são os seus?