Devemos saber priorizar e dar foco ao que se apresenta
mais urgente.
Há
anos o Movimento Espírita (ME), vêm apresentando mudanças e indicadores
referentes aos espíritas e suas instituições. Os sinais revelam uma situação
grave que deveria ser alvo, no mínimo de discussões a procura de soluções.
A
idade média dos espíritas vem aumentando desde os três últimos Censos e nas
oito edições da PNP 2023 – Pesquisa para Espíritas. Atualmente está em 53 anos!
Há
falta de frequentadores, trabalhadores palestrantes e instrutores nas casas
espíritas. Há falta de recursos financeiros para a manutenção. Há falta de
jovens na maioria das casas espíritas. A PNP mostra que a participação deles é
mínima e está reduzindo.
A
renovação dos espíritas não consegue superar as perdas, principalmente por
idade. O Censo 2010 registrou que o espiritismo foi a religião que mais
cresceu, atingindo 2% da população brasileira. O Censo de 2023 provavelmente
irá mostrar uma redução, ou, no máximo a manutenção dos 2%.
Consulta
na Receita Federal por CNPs espíritas, mostram grande desaceleração na criação
de novas instituições e grande aumento de centros baixados e cancelados.
Atualmente devemos ter 10 mil instituições, mas já tivemos mais de 15 mil.
A
gravidade não está propriamente na perda de espíritas e possibilidade de
desvirtuamento da doutrina. Está no compromisso de oferecer seu conhecimento à
sociedade, apresentado um caminho alternativo de desenvolvimento moral.
Lives
nas redes sociais não conseguem mais de 20 pessoas assistindo, a não ser com a
presença de algumas celebridades espíritas. Lives com assuntos relevantes são
desprezadas e os poucos participantes nada perguntam ou contribuem e, provavelmente
nem compartilham.
Cerca
de 20% dos grupos espíritas no Facebook não recebem postagens há mais de ano. Há
muitos grupos que não permitem postar, apenas o receber suas publicações. Os
espíritas não comentam as postagens e, quando o fazem – ou é para responderem
como beatos ou com agressividade.
O
modelo de gestão das casas é antiquado e pouco atraente para novas lideranças. Quase
não há preparação de novos dirigentes. O planejamento é muito superficial,
atendo-se a eventos comuns, datas e responsáveis.
Todas
as religiões estão com dificuldades de atrair jovens. Somente algumas linhas
evangélicas estão conseguindo, utilizando como chamariz o convívio com outros
jovens e a integração pela arte, música, teatro.
Até
aí, muitas casas espíritas fazem semelhante com mais ou menos êxito. Contudo,
eles oferecem também o imediatismo nas soluções desejadas com o menor esforço e
o temor de desagradar a Deus. Talvez estejam aí os fatores determinantes de um
público que não podemos atingir, por enquanto.
Quem
são os espíritas que frequentam os centros? Boa parte não deve ser constituída
por espíritas, mas pessoas interessadas em algum benefício. Quantas delas
estamos conseguindo reter? Provavelmente quase nenhuma.
Angeli
Torteroli (1849-1928) além de defensor implacável do estudo e da prática da
doutrina espírita livre dos misticismos e sincretismos, foi incansável
divulgador do espiritismo fora do movimento espírita. Dizia que as ideias e o
conhecimento espírita devem ser constantemente oferecidos para o público
externo, o que quase não é feito na atualidade.
Precisamos
entender que os espíritas do movimento atual foram atraídos décadas atrás por
modelos e apelos que não mais motivam pessoas com potencial para serem bons
espíritas. Continuar nesse caminho está se demonstrando equivocado, com sérios
riscos para a perpetuação da doutrina no Brasil.
O
outro lado dessa difícil questão é que não deveríamos atirar a rede a esmo, mas
direcionar nossos raciocínios e argumentos para despertar interesse nas pessoas
com melhor potencial para vivenciarem corretamente o espiritismo.
Destacou
Kardec: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e
pelos esforços que emprega para dominar suas más inclinações”. Isso se consegue
estudando e absorvendo o conhecimento espírita o que resultará no
aperfeiçoamento moral, finalidade maior.
De
forma geral, as palestras são muito superficiais e repetitivas. Os cursos
espíritas remotos, presenciais ou híbridos, não mostram as diferentes linhas de
pensamento, não estimulam os aprendizes a pesquisarem e raciocinarem,
comparando e questionando as ideias apresentadas. Quase não há trabalhos
individuais e em grupo, discussão de temas e nem mesmo uma avaliação do
aprendizado. Completamente muito distantes dos modelos acadêmicos e dos cursos
privados.
São
diversas as variáveis e seus níveis de influência que devem ser analisadas
visando tornar as casas espíritas mais atrativas e aumentar o fluxo dos
frequentadores. Na dificuldade de precisá-las, a recomendação mais sensata será
tratar todas elas.
O
comportamento e as expressões religiosas em demasia, certamente estão entre elas.
Foi essa feição que nos foi apresentada pelos pioneiros da doutrina no Brasil
e, foi assim que aprendemos a ser espíritas. Contudo, os indicadores demostram
que este modelo não funciona mais para a totalidade das pessoas.
Naturalmente,
não é adequado trocar um modelo por outro. Temos de atender o público afeito à
ciência, à filosofia e à religião, mantendo coesos os princípios doutrinários e
seus conceitos básicos.
Temos
atualmente esses três modelos, dominados, cerca de 90% pelos centros religiosos.
As outras expressões são muito reduzidas e pesquisa realizada constatou que a
maioria dos espíritas não tem conhecimento da sua existência. Aqueles poucos
que tiveram informações, foram negativas, contribuindo para a recusa de
posições diferentes. Falta convivência mais harmônica, baseada nos pontos
comuns e melhor divulgação dos caminhos filosóficos e científicos.
Trabalhadores,
dirigentes, expositores, instrutores, divulgadores e todas as instituições espíritas
devem dar prioridade a mudar este cenário e a construir outro mais promissor.
Criem grupos, marquem reuniões, busquem causas e possíveis soluções.