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terça-feira, 21 de março de 2023

Passou da hora de agir!

 

Devemos saber priorizar e dar foco ao que se apresenta mais urgente.


Há anos o Movimento Espírita (ME), vêm apresentando mudanças e indicadores referentes aos espíritas e suas instituições. Os sinais revelam uma situação grave que deveria ser alvo, no mínimo de discussões a procura de soluções.

A idade média dos espíritas vem aumentando desde os três últimos Censos e nas oito edições da PNP 2023 – Pesquisa para Espíritas. Atualmente está em 53 anos!

Há falta de frequentadores, trabalhadores palestrantes e instrutores nas casas espíritas. Há falta de recursos financeiros para a manutenção. Há falta de jovens na maioria das casas espíritas. A PNP mostra que a participação deles é mínima e está reduzindo.

A renovação dos espíritas não consegue superar as perdas, principalmente por idade. O Censo 2010 registrou que o espiritismo foi a religião que mais cresceu, atingindo 2% da população brasileira. O Censo de 2023 provavelmente irá mostrar uma redução, ou, no máximo a manutenção dos 2%.

Consulta na Receita Federal por CNPs espíritas, mostram grande desaceleração na criação de novas instituições e grande aumento de centros baixados e cancelados. Atualmente devemos ter 10 mil instituições, mas já tivemos mais de 15 mil.

A gravidade não está propriamente na perda de espíritas e possibilidade de desvirtuamento da doutrina. Está no compromisso de oferecer seu conhecimento à sociedade, apresentado um caminho alternativo de desenvolvimento moral.

Lives nas redes sociais não conseguem mais de 20 pessoas assistindo, a não ser com a presença de algumas celebridades espíritas. Lives com assuntos relevantes são desprezadas e os poucos participantes nada perguntam ou contribuem e, provavelmente nem compartilham.

Cerca de 20% dos grupos espíritas no Facebook não recebem postagens há mais de ano. Há muitos grupos que não permitem postar, apenas o receber suas publicações. Os espíritas não comentam as postagens e, quando o fazem – ou é para responderem como beatos ou com agressividade.

O modelo de gestão das casas é antiquado e pouco atraente para novas lideranças. Quase não há preparação de novos dirigentes. O planejamento é muito superficial, atendo-se a eventos comuns, datas e responsáveis.

Todas as religiões estão com dificuldades de atrair jovens. Somente algumas linhas evangélicas estão conseguindo, utilizando como chamariz o convívio com outros jovens e a integração pela arte, música, teatro.

Até aí, muitas casas espíritas fazem semelhante com mais ou menos êxito. Contudo, eles oferecem também o imediatismo nas soluções desejadas com o menor esforço e o temor de desagradar a Deus. Talvez estejam aí os fatores determinantes de um público que não podemos atingir, por enquanto.

Quem são os espíritas que frequentam os centros? Boa parte não deve ser constituída por espíritas, mas pessoas interessadas em algum benefício. Quantas delas estamos conseguindo reter? Provavelmente quase nenhuma.

Angeli Torteroli (1849-1928) além de defensor implacável do estudo e da prática da doutrina espírita livre dos misticismos e sincretismos, foi incansável divulgador do espiritismo fora do movimento espírita. Dizia que as ideias e o conhecimento espírita devem ser constantemente oferecidos para o público externo, o que quase não é feito na atualidade.

Precisamos entender que os espíritas do movimento atual foram atraídos décadas atrás por modelos e apelos que não mais motivam pessoas com potencial para serem bons espíritas. Continuar nesse caminho está se demonstrando equivocado, com sérios riscos para a perpetuação da doutrina no Brasil.

O outro lado dessa difícil questão é que não deveríamos atirar a rede a esmo, mas direcionar nossos raciocínios e argumentos para despertar interesse nas pessoas com melhor potencial para vivenciarem corretamente o espiritismo.

Destacou Kardec: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para dominar suas más inclinações”. Isso se consegue estudando e absorvendo o conhecimento espírita o que resultará no aperfeiçoamento moral, finalidade maior.

De forma geral, as palestras são muito superficiais e repetitivas. Os cursos espíritas remotos, presenciais ou híbridos, não mostram as diferentes linhas de pensamento, não estimulam os aprendizes a pesquisarem e raciocinarem, comparando e questionando as ideias apresentadas. Quase não há trabalhos individuais e em grupo, discussão de temas e nem mesmo uma avaliação do aprendizado. Completamente muito distantes dos modelos acadêmicos e dos cursos privados.

São diversas as variáveis e seus níveis de influência que devem ser analisadas visando tornar as casas espíritas mais atrativas e aumentar o fluxo dos frequentadores. Na dificuldade de precisá-las, a recomendação mais sensata será tratar todas elas.

O comportamento e as expressões religiosas em demasia, certamente estão entre elas. Foi essa feição que nos foi apresentada pelos pioneiros da doutrina no Brasil e, foi assim que aprendemos a ser espíritas. Contudo, os indicadores demostram que este modelo não funciona mais para a totalidade das pessoas.

Naturalmente, não é adequado trocar um modelo por outro. Temos de atender o público afeito à ciência, à filosofia e à religião, mantendo coesos os princípios doutrinários e seus conceitos básicos.

Temos atualmente esses três modelos, dominados, cerca de 90% pelos centros religiosos. As outras expressões são muito reduzidas e pesquisa realizada constatou que a maioria dos espíritas não tem conhecimento da sua existência. Aqueles poucos que tiveram informações, foram negativas, contribuindo para a recusa de posições diferentes. Falta convivência mais harmônica, baseada nos pontos comuns e melhor divulgação dos caminhos filosóficos e científicos.

Trabalhadores, dirigentes, expositores, instrutores, divulgadores e todas as instituições espíritas devem dar prioridade a mudar este cenário e a construir outro mais promissor. Criem grupos, marquem reuniões, busquem causas e possíveis soluções.

sábado, 15 de julho de 2017

O líder espírita modelando novos líderes e espíritas

Um olhar introspectivo sobre a formação dos novos espíritas e futuros dirigentes

Este artigo propõe algo ousado. Uma autoanálise para o líder espírita e uma consequente constatação dos padrões de pensamento e comportamento que está ajudando a perpetuar, uma vez que o seu papel nos Centros Espíritas possui, inegavelmente, maior poder de influência.

É tarefa difícil pois a psicologia ensina que não conseguimos perceber bem a nós mesmos, apenas alguns aspectos. E ainda, que costumamos disfarçar um determinado comportamento inadequado com um monte de justificavas internas, transformando-o, aos nossos próprios olhos, de algo não só justificável, como até elogiável.

Todos nós fomos marcados por acontecimentos anteriores caracterizando nosso comportamento atual e reclamando solução. Respondemos a estímulos de forma automatizada e precisamos nos dar conta que esse automatismo também precisa mudar, evoluir.

Mesmo assim, podemos fazer um exercício de percepção. Que tipo de espírita eu sou?

Gosto de estudar, de conferir afirmações, de comparar textos com a codificação? Muitas pessoas dizem que sim, mas na prática, dificilmente recorrem a mais uma leitura das obras de Kardec, apenas para sossegar uma inquietação interna. Intimamente justificam que já fizeram vários cursos, que já leram muito. Esta forma de pensar transparece subliminarmente para as pessoas que frequentam e trabalham na casa espírita, resultando que parte significativa das pessoas atingidas tenderá a assumir comportamento semelhante.

Tenho foco voltado para os resultados? Estou sempre pensando em como otimizar os resultados? Mesmo aqueles considerados bons para a maioria? Ou costumo legitimar os resultados fracos pelas dificuldades comuns à toda instituição espírita? Isso costuma contagiar o comportamento dos colegas e liderados. Cria um clima de extrema tolerância a erros e omissões, de achar que no trabalho voluntário não cabe cobranças e exigências, não obstante qualquer atividade, mesmo sem remuneração exige compromisso e responsabilidade.

Reivindico novas atividades? Ou alego que já possuo muitas tarefas, sem ter feito um esforço verdadeiro de realocação? Delego aos outros a responsabilidade de tarefas e a autoridade necessária para a sua execução? Ou o meu senso de responsabilidade sempre conclui que os outros não conseguirão fazer as coisas corretamente como eu faço? Gosto de descobrir e desenvolver novos talentos nas pessoas? Ou termino desistindo pelos riscos da inexperiência dos voluntários?

Tenho curiosidade intelectual? Gosto de esmiuçar os ensinamentos espíritas? Ou acredito que a Doutrina foi ditada pronta e acabada? Que cabe a nós apenas concordar e obedecer aos ensinamentos? Aceito críticas e sugestões? Ofereço espaço para as pessoas opinarem e também divergirem da minha opinião? Uma postura fechada costuma criar um ambiente em que ninguém questiona, sugere, opine, o que não é condizente com uma doutrina evolucionista.

Sou uma pessoa que admira mais a disciplina do que a participação? Prefiro a obediência às regras ao interesse sincero de progredir? Acredito que o espírita deve ser essencialmente uma pessoa obediente? Acredito que a melhor coisa que podemos pedir às pessoas é o que está escrito na placa muito comum da sala da reunião pública exigindo SILÊNCIO!? Esse tipo de pensamento atrai pessoas exatamente assim, dificultando as mudanças que toda organização é obrigada a fazer para se ajustar ao mundo que está sempre mudando.

Gosto de estar sempre motivando os outros ao estudo, ao auto aperfeiçoamento e a melhor realização de seus afazeres? Ou entendo que isso é obrigação de cada um? Pensando assim estarei contribuindo para moldar um lugar onde o dever está acima do ideal. O dever é algo que fazemos por obrigação e o ideal é uma aspiração que nos encoraja.

Comunico com as pessoas de modo assertivo e fraterno? Olho no olho, palavras fraternas, mas claras e firmes? Recordo os últimos problemas de comunicação que teve. Atribuo culpa mais aos outros do que a mim mesmo? Sempre é possível mudar e melhorar, pois a comunicação clara é a base para a manutenção de todo empreendimento.

Minha comunicação é completa e não omissa? Ou sempre me justifico falando a mim mesmo que não posso dizer tudo, que não compreenderiam, que as coisas devem ser reveladas aos poucos. Há ocasião para essa precaução, mas se ela insiste em perdurar, cuidado! Posso não estar dando chance de as pessoas pensarem e também de errarem, o que faz parte do processo de aprendizado.

A instituição espírita não precisa apenas de trabalhadores, mas de participantes ativos e profundamente compromissados com o ideal de um mundo melhor pela compreensão dos ensinamentos espíritas. Só assim poderemos oferecer uma verdadeira contribuição à sociedade e à própria Doutrina Espírita.

A mudança que desejamos para as nossas casas espíritas e para os seus participantes deve começar em nós mesmos e no poder de influência que todos possuímos. Vamos ajustar em nós, o que conseguirmos perceber e mudar. Se tivermos essa intenção realmente instalada em nossas preocupações, ganharemos força e capacidade de transformação. Sua adesão a esse exercício é muito importante para o futuro do Espiritismo enquanto conhecimento integral com ampla capacidade de contribuição à humanidade.

Publicado originalmente na Revista Senda da Federação Espírita do Estado do Espírito Santo em julho 2017