domingo, 16 de novembro de 2025

Como se referir à sua religião sem exagerar?

 

(imagem criada pela IA)

Entre a fé que se impõe e a fé que se constrói.

Quem segue uma religião geralmente o faz porque acredita que seus dogmas e orientações representam o caminho mais seguro — ou até o único — para a salvação. É natural que considere sua crença como a verdadeira, a escolhida por Deus, a mais próxima de Jesus. Essa confiança faz parte da fé religiosa tradicional, sustentada pela devoção e pela autoridade dos textos sagrados.

Mas e quanto àqueles que seguem uma doutrina que se propõe racional, que não nasceu pronta, que se reconhece perfectível, que não promete salvação, e convida o ser humano ao autoaperfeiçoamento? Uma doutrina que espera contribuições do próprio homem, que evolui como a ciência e a filosofia?

Os espíritas costumam acreditar que o Espiritismo reúne mais verdades, justamente por ser uma doutrina mais recente e que pode aprender com as experiências religiosas anteriores. Em tese, isso deveria nos tornar mais abertos, ponderados e humildes.

Todavia, o que se observa, com frequência, nas palestras, vídeos e redes sociais espíritas, é um tom de orgulho e superioridade moral.

Há quem fale como se fôssemos os curadores da moral evangélica, os melhores cristãos, os guardiões da verdade.

Atribui-se a Jesus a função de zelar pessoalmente pela doutrina, e aos Espíritos Superiores, a tarefa constante de proteger o movimento, como se o Espiritismo fosse uma obra exclusiva, sem riscos e a responsabilidade humana ínfima, não sujeita a erros.

Se o Espiritismo se afirma como a fé raciocinada, não estaria faltando uma dose de humildade e bom senso? Uma abertura para novos aprendizados? Uma postura receptiva com intenção de conseguir obter sempre um novo aprendizado, nem que seja apenas para reforçar e ampliar o conhecimento atual

Reconhecer que possuímos muitas explicações, mas ainda carecemos de muitas outras? Que conceitos e raciocínios doutrinários podem — e mesmo devem — evoluir com o tempo?

E, claro! Isso não significa aceitar qualquer novo pensamento, sem o crivo da razão e adesão universal.

Quem sabe, a melhor forma de valorizar a Doutrina Espírita seja substituir as certezas inflexíveis pelo “talvez” ponderado, a convicção orgulhosa pela curiosidade serena, e o apego à letra pela busca constante da verdade sempre ajustada a cada estágio evolutivo?

Foi uma reflexão que desejei compartilhar.


4 comentários:

  1. Excelente reflexão, Ivan! E valeu pelo alerta: o palestrante deve saber o limite entre convicção e arrogância.

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  2. No ESE cap XV, ítens 8 e 9, está dito pelos espíritos que a verdade só é acessível e compreensível por espiritos mais elevados, e que nenhuma religião está com a verdade, nem mesmo a doutrina espirita, por isso que se diz "fora da caridade não há salvação". Crer que a doutrina espírita é o supra-sumo é presunção mesmo.

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    1. quen publicou fui eu, Marcos Casella

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  3. Ótimas reflexões, Ivan. Realmente, menos soberba não faria mal a uma filosofia espiritualista, que se apresenta como livre-pensadora, laica, humanista, progressista, progressiva e plural. Parabéns, Ivan!
    Abraços.
    Homero Rosa.

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