Entre a fé que se impõe
e a fé que se constrói.
Quem segue uma religião geralmente o faz porque
acredita que seus dogmas e orientações representam o caminho mais seguro — ou
até o único — para a salvação. É natural que considere sua crença como a
verdadeira, a escolhida por Deus, a mais próxima de Jesus. Essa confiança faz
parte da fé religiosa tradicional, sustentada pela devoção e pela autoridade
dos textos sagrados.
Mas e quanto àqueles que seguem uma doutrina
que se propõe racional, que não nasceu pronta, que se reconhece perfectível, que
não promete salvação, e convida o ser humano ao autoaperfeiçoamento? Uma
doutrina que espera contribuições do próprio homem, que evolui como a ciência e
a filosofia?
Os espíritas costumam acreditar que o
Espiritismo reúne mais verdades, justamente por ser uma doutrina mais recente e
que pode aprender com as experiências religiosas anteriores. Em tese, isso
deveria nos tornar mais abertos, ponderados e humildes.
Todavia, o que se observa, com frequência, nas
palestras, vídeos e redes sociais espíritas, é um tom de orgulho e
superioridade moral.
Há quem fale como se fôssemos os curadores da
moral evangélica, os melhores cristãos, os guardiões da verdade.
Atribui-se a Jesus a função de zelar
pessoalmente pela doutrina, e aos Espíritos Superiores, a tarefa constante de
proteger o movimento, como se o Espiritismo fosse uma obra exclusiva, sem
riscos e a responsabilidade humana ínfima, não sujeita a erros.
Se o Espiritismo se afirma como a fé
raciocinada, não estaria faltando uma dose de humildade e bom senso? Uma
abertura para novos aprendizados? Uma postura receptiva com intenção de conseguir
obter sempre um novo aprendizado, nem que seja apenas para reforçar e ampliar o
conhecimento atual
Reconhecer que possuímos muitas explicações,
mas ainda carecemos de muitas outras? Que conceitos e raciocínios doutrinários
podem — e mesmo devem — evoluir com o tempo?
E, claro! Isso não significa aceitar qualquer
novo pensamento, sem o crivo da razão e adesão universal.
Quem sabe, a melhor forma de valorizar a
Doutrina Espírita seja substituir as certezas inflexíveis pelo “talvez”
ponderado, a convicção orgulhosa pela curiosidade serena, e o apego à letra
pela busca constante da verdade sempre ajustada a cada estágio evolutivo?
Foi uma reflexão que desejei
compartilhar.

Excelente reflexão, Ivan! E valeu pelo alerta: o palestrante deve saber o limite entre convicção e arrogância.
ResponderExcluirNo ESE cap XV, ítens 8 e 9, está dito pelos espíritos que a verdade só é acessível e compreensível por espiritos mais elevados, e que nenhuma religião está com a verdade, nem mesmo a doutrina espirita, por isso que se diz "fora da caridade não há salvação". Crer que a doutrina espírita é o supra-sumo é presunção mesmo.
ResponderExcluirquen publicou fui eu, Marcos Casella
ExcluirÓtimas reflexões, Ivan. Realmente, menos soberba não faria mal a uma filosofia espiritualista, que se apresenta como livre-pensadora, laica, humanista, progressista, progressiva e plural. Parabéns, Ivan!
ResponderExcluirAbraços.
Homero Rosa.