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terça-feira, 16 de setembro de 2025

Análise dos Títulos de Livros Espíritas


 “Mais que palavras, os títulos refletem tendências, influências e o futuro da literatura espírita no país.”

Introdução

A literatura espírita brasileira constitui um patrimônio cultural de grande relevância, refletindo a evolução do movimento espírita ao longo de mais de um século. Uma lista de 7.832 títulos atualmente em circulação oferece a oportunidade de identificar tendências, ausências e peculiaridades da produção nacional.
Este artigo propõe-se a analisar o conteúdo simbólico e temático dos títulos, considerando-os como indicadores das preocupações, valores e prioridades do Espiritismo no Brasil. A investigação evidencia tanto a riqueza do material produzido quanto lacunas que podem orientar reflexões para o futuro.

Objetivos

  • Mapear as palavras e temas mais recorrentes nos títulos espíritas brasileiros.
  • Categorizar a produção em eixos temáticos (místico, religioso-devocional, bíblico-evangélico, doutrinário-filosófico, autoajuda espiritual, histórico-biográfico, juvenil).
  • Identificar ausências significativas, sobretudo em áreas ligadas à investigação crítica, filosofia e diálogo com a ciência.
  • Estimular o debate sobre como a literatura espírita pode recuperar o espírito de pesquisa e questionamento presente em Kardec e na Revista Espírita.

Metodologia

  1. Corpus analisado: lista com 7.832 títulos de obras espíritas brasileiras (excluídas obras de Kardec e de autores estrangeiros).
  2. Análise lexical: identificação das palavras mais frequentes nos títulos, desconsiderando artigos e preposições.
  3. Classificação temática: agrupamento dos títulos em categorias semânticas a partir de palavras-chave.
  4. Análise crítica: comparação entre os temas recorrentes e aqueles esperados de uma doutrina que se declara investigativa, aberta ao progresso das ideias e da ciência.
  5. Interpretação: contextualização dos resultados dentro da história do movimento espírita brasileiro.

 “Cada título é uma porta aberta para compreender como pensamos, sentimos e vivemos a espiritualidade.”

Desenvolvimento temático (esboço inicial)

Conceitos mais frequentes

  • Amor, vida, espírito, luz, Jesus, coração, Deus, esperança, perdão.
  • Predominância de termos afetivos e cristãos-evangélicos.


30 palavras mais frequentes nos títulos

(excluídas preposições e artigos comuns como “de”, “em”, “para” etc.)

  1. Amor
  2. Vida
  3. Espírito / Espírita / Espiritismo
  4. Luz
  5. Jesus
  6. Alma / Almas
  7. Coração
  8. Deus
  9. Evangelho
  10. Cristo / Cristã(o)
  11. Morte / Desencarnação
  12. Esperança
  13. Família
  14. Céu
  15. Terra
  16. Tempo
  17. Criança / Juventude
  18. Saudade
  19. Libertação / Liberdade
  20. Consciência
  21. Paz
  22. Perdão
  23. Saúde / Doença / Depressão
  24. Reencarnação / Vidas passadas
  25. Mensagem / Cartas
  26. História / Histórias
  27. Caminho / Caminhos
  28. Obssessão / Desobsessão
  29. Mediunidade / Médiuns
  30. Lar / Casa


Distribuição temática

  • Doutrinário-filosófico: 35%
  • Religioso-devocional: 20%
  • Bíblico-evangélico: 15%
  • Autoajuda espiritual/psicológica: 12%
  • Histórico-biográfico: 8%
  • Juvenil/infanto-juvenil: 6%
  • Místico/esotérico: 4%

Ausências significativas

  • Escassez de títulos sobre método científico, crítica doutrinária, questionamento filosófico.
  • Pouquíssimas referências à Revista Espírita ou aos clássicos além da Codificação.
  • Raridade de diálogos com autores como Léon Denis, Delanne, Flammarion.

 Interpretação cultural

  • A literatura espírita brasileira privilegia a função consoladora e religiosa, em detrimento da função investigativa e filosófica.
  • Isso molda o público leitor, reforçando sentimentos e devoção, mas limitando o estímulo à crítica construtiva.

Temas raros ou praticamente ausentes

Investigação crítica e questionamento

  • São raríssimos títulos com ênfase em debate, crítica construtiva ou revisão doutrinária.
  • Exceções pontuais: “Repensando o Movimento Espírita no Brasil”, “Revisão ou Reafirmação do Espiritismo”, “Revisão do Cristianismo”
  • Mas a regra geral é a ausência desse tom investigativo que deveria ser natural numa Doutrina que não se considera “palavra final”.

Revista Espírita e fontes históricas

  • Há um ou outro título que cita explicitamente Kardec fora da Codificação, como “Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec” 
  • Entretanto, referências diretas à Revista Espírita ou a estudos comparativos com Léon Denis, Delanne, Gabriel Dellane etc. são praticamente inexistentes.

Pesquisa filosófica aprofundada

  • Poucos títulos remetem a estudos sistemáticos de filosofia, lógica ou epistemologia.
  • A filosofia aparece diluída em termos como “destino”, “consciência”, “vida”, mas sem esforço de aprofundamento crítico.

Temas de ciência e metodologia

  • Embora haja títulos com “ciência”, “psicologia”, “física quântica”, eles aparecem muito mais como tentativa de legitimação do Espiritismo perante a ciência do que como um diálogo investigativo.
  • Títulos que abordem “método científico”, “crítica de fontes” ou “estudos comparativos” são praticamente inexistentes.

 O que isso sugere?

  • A literatura espírita brasileira priorizou consolo, fé e evangelho em vez de crítica, pesquisa e filosofia comparada.
  • O movimento editorial valoriza muito mais o emocional (esperança, saudade, amor, luz) do que o racional investigativo.
  • Há uma lacuna formativa: o leitor espírita tem fartura de romances, mensagens e livros de consolo, mas quase nenhuma oferta de obras que o estimulem a questionar, comparar fontes, analisar metodologicamente.

 Caminhos para preencher essa ausência

Incentivar obras críticas e investigativas que dialoguem com a Revista Espírita e com autores clássicos além de Kardec.

Produzir títulos que tragam questões abertas:

·  “O que ainda não sabemos sobre o perispírito?”

·  “O Espiritismo resiste ao método científico?”

·  “Comparações entre a Revista Espírita e a literatura atual”.

Promover a ideia de que questionar é a forma de estimular o crescimento da Doutrina e honrar Kardec.

 

Sugestões de títulos de livros que poderiam ser escritos

Investigação e crítica construtiva

  • “Espiritismo em Debate: O que Sabemos, o que Ignoramos”
  • “A Crítica Construtiva como Caminho Espírita”
  • “O Espírito Crítico de Kardec e sua Atualidade”
  • “Erros, Acertos e Lacunas: o Movimento Espírita em Análise”
  • “O Método Investigativo no Espiritismo”

 Revista Espírita e fontes além da Codificação

  • “Revista Espírita: O Laboratório de Kardec”
  • “O que Kardec Pesquisou e Ainda Ignoramos”
  • “Da Revista Espírita à Atualidade: Experiências de Pesquisa”
  • “Léon Denis e o Brasil Espírita: Um Diálogo Esquecido”
  • “Outros Clássicos, Novas Leituras: Delanne, Flammarion e a Pesquisa Espírita”

 Aprofundamento filosófico e científico

  • “Espiritismo e Epistemologia: O que Significa Conhecer?”
  • “Método Científico e Pesquisa Espírita: Possibilidades e Limites”
  • “O Problema do Mal na Perspectiva Espírita”
  • “Liberdade, Determinismo e Reencarnação”
  • “A Filosofia Espírita diante da Ciência Moderna”
  • “Diferenças entre André Luiz e Kardec”

Questões contemporâneas

  • “Espiritismo, Ética e Sustentabilidade Planetária”
  • “Saúde Mental e Espiritualidade: Além da Autoajuda”
  • “Tecnologia, Inteligência Artificial aplicada”
  • “A Religião dos Espíritos em uma Sociedade Secularizada”
  • “O Futuro do Movimento Espírita: Cenários e Hipóteses”

Esses títulos imaginários mostram que o Espiritismo brasileiro ainda tem vastos campos pouco explorados — e que resgatar o espírito questionador de Kardec é talvez uma das tarefas mais prementes para o século XXI. 

Os títulos dos livros espíritas brasileiros são retratos da alma coletiva de nosso movimento.”

Reflexões finais – um olhar para o futuro

A análise dos títulos dos livros espíritas brasileiros revela uma produção ampla, rica e diversificada, mas também marcada por lacunas significativas. A predominância de termos ligados ao consolo emocional e à tradição cristã mostra um Espiritismo que se apresenta mais como religião de acolhimento do que como filosofia de investigação.

Retomar o espírito questionador de Kardec, revalorizar a Revista Espírita e incentivar estudos críticos e filosóficos são caminhos que podem equilibrar a produção literária.

Mais do que identificar o que já existe, este levantamento aponta para o que ainda precisa ser escrito: obras que inspirem crítica construtiva, comparações históricas, diálogo com a ciência e aprofundamento filosófico.

Assim, o Espiritismo brasileiro poderá enriquecer seu acervo e manter-se fiel ao princípio de ser uma doutrina em constante evolução, sem a pretensão da última palavra.



sexta-feira, 1 de março de 2019

Mercado Editorial Espírita 2017

O início desse trabalho foi em 2006, quando notei que, diferentemente de outros segmentos de mercado, não havia informações sobre a produção e venda dos livros espíritas.
A partir de uma amostra dos dados de venda de livros espíritas em 2017, foram calculados e projetados os valores para todo o mercado editorial espírita brasileiro.
A pesquisa não incluiu os livros traduzidos em outros idiomas, braile, áudio book, as produções musicais e em vídeo.
Cada livro foi totalizado somando-se todas as suas formas de edição, como:  bolso, capa dura, espiral, luxo e comemorativos. Foram contabilizados livros de mesmo autor publicados por mais de uma editora.
Foram considerados os livros vendidos pelas editoras e distribuidoras espíritas, caracterizados como espíritas ou de interesse para o espiritismo.
A pesquisa retirou as obras espiritualistas, teosóficas, cristianismo católico, autoajuda, Reiki, filosofias orientais e Umbanda. Foram acrescentadas algumas editoras não espíritas para incluir os livros de autores espíritas por elas editados.
O mercado de livros espíritas está inserido no mercado editorial geral que vive anos de queda de produção e consumo.
Em 2017, o mercado editorial brasileiro viu seu faturamento cair 1,95% e em 2016 tinha reduzido 5,2%. Mesmo assim, as editoras brasileiras venderam 222 milhões e faturaram quase 4 bilhões nas vendas ao mercado. O total de exemplares produzidos caiu 7,94% em 2017.[1] Os livros religiosos, embora com queda, alcançaram mais de 70 milhões de exemplares produzidos.
Estamos falando de um mercado de baixo consumo de livros. De acordo com a Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro – Base 2016, o brasileiro lê pouco, em média 2,43 livros inteiros por ano.
Além disso, é forte o analfabetismo funcional[2], sendo que apenas 12% dos brasileiros conseguem ler e compreender textos simples, que dirá dos textos espíritas de Allan Kardec, Léon Denis, Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, entre outros, que usam palavras arcaicas e eruditas.
Os compradores visados para os livros espíritas são os próprios que constituem apenas 2% da população (4,2 milhões) segundo o Censo 2010 e os simpatizantes que não há estatística a respeito e que deve representar três a cinco vezes o contingente dos espíritas (12,6 a 21 milhões de pessoas).
Estamos em minoria no país, e o mercado de livros espíritas é muito reduzido. Os brasileiros evangélicos são dez vezes mais que os espíritas (22,2%), os católicos mais que trinta vezes (64,6%) e os sem religião quatro vezes mais que os espíritas.
Os Censos do IBGE e de outras pesquisas também caracterizam o espírita com mais anos de estudo e com média anual mais elevada de livros lidos que do brasileiro, fator que provavelmente faz a diferença.
Segundo Pesquisa para Espíritas de 2018 realizada com 3926 pessoas de 735 cidades, 34,2% leram entre 3 a 5 livros nos últimos doze meses, 20,5% leram seis a dez livros e 18,7% leram mais que dez livros. Preferem comprar livros novos (64,4%) e compram principalmente nos Centros Espíritas (45,1%) e em Livrarias Espíritas (18,7%). Um pequeno grupo (7,2%) já aparece dando preferência à leitura de livros digitalizados.
A publicação e comercialização de livros espíritas em 2017 teve bom resultado. O número de títulos publicados em onze anos quase foi dobrado, passando de 4.330 em 2006 para 8.407 livros em 2017. Foram identificados 166 títulos repetidos e utilizados por outros autores, o que não deveria ocorrer.
Os livros mediúnicos tiveram uma pequena redução, representavam 40% e em 2006 e 37,9% em 2017. Foram identificados 434 autores médiuns.
A estimativa, baseada em projeções é que o faturamento tenha alcançado pelo menos 73 milhões de reais com 3,3 milhões de livros vendidos.
As editoras consideradas espíritas caíram no mesmo período de 205 para 181. Isso se deve ao encerramento de várias editoras que existiam mais na documentação que de fato. Algumas foram criadas para viabilizarem o sonho de ter um livro publicado.
Os autores de livros espíritas aumentaram 59%. Eram 998 em 2006 e são 1.691 em 2017, considerando-se todos os Autores e Médiuns, descontando-se as sobreposições.

Veja pesquisa completa clicando em:




[1] Realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a pedido da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).
[2] https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46177957