quarta-feira, 28 de maio de 2025

O Instinto Materno à Luz do Espiritismo

Mais que Biologia, um Legado do Espírito


Por que tantas mulheres desenvolvem profundo amor maternal mesmo sem terem gerado um filho? Como explicar a presença desse instinto em espíritos que alternam entre encarnações masculinas e femininas? Seria tudo apenas uma questão hormonal, ou há algo mais profundo envolvido?

A Doutrina Espírita oferece chaves valiosas para compreendermos o instinto materno como um fenômeno que ultrapassa o campo biológico. Trata-se de uma expressão afetiva e moral da alma, construída ao longo de diversas existências, que se manifesta tanto em mães biológicas quanto adotivas — e até mesmo em pessoas que jamais tiveram filhos.

O instinto e sua origem espiritual

O Livro dos Espíritos define o instinto como uma “espécie de inteligência sem raciocínio” (q. 75). É uma forma de sabedoria inconsciente, fruto da experiência acumulada do Espírito, que se manifesta como impulso natural de proteção e cuidado.

No caso do instinto materno, trata-se de uma tendência afetiva desenvolvida em vidas anteriores, especialmente nas encarnações femininas, mas não limitada a elas. Mesmo um espírito que acaba de encarnar em corpo feminino, vindo de existência masculina, pode trazer em si registros profundos do sentimento maternal.

Hormônios e alma: uma parceria complexa

A ciência comprova que hormônios como a ocitocina e a prolactina desempenham papel importante na ligação entre mãe e filho, especialmente após o parto. No entanto, há algo que os hormônios não explicam: o amor maternal desenvolvido por mães adotivas, mulheres que nunca engravidaram, ou mesmo por homens sensíveis ao cuidado e à proteção do próximo.

Isso acontece porque o instinto materno não depende exclusivamente da biologia. Ele está inscrito no perispírito, moldado pelas experiências reencarnatórias do espírito e pronto para se manifestar sempre que a vida oferecer essa oportunidade.

A alternância de sexos e o aprendizado afetivo

A reencarnação proporciona ao Espírito a vivência em diferentes papeis — homem, mulher, pai, mãe, filho. Essa alternância é necessária ao progresso completo do ser, como ensinam os Espíritos a Kardec (LE, q. 200).

Assim, mesmo que alguém esteja encarnado como mulher pela primeira vez após diversas vidas masculinas, poderá desenvolver rapidamente um instinto materno já latente — ou seja, presente, mas adormecido, à espera das condições adequadas para aflorar.

Mães sem filhos: o amor sem limites

O Espiritismo reconhece o valor e a grandeza de mulheres que, mesmo sem experiência biológica da maternidade, expressam o amor maternal em sua forma mais elevada. São mães do coração, do acolhimento, da escuta, da entrega silenciosa.

Essas mulheres provam que a maternidade não está restrita ao útero, mas se expande no coração.

Instinto, sentimento e evolução

O Espiritismo propõe que o instinto é apenas o ponto de partida. A meta é transformar o impulso em virtude — o instinto em amor consciente, abnegado e universal.

Assim como o instinto materno nos leva a cuidar dos nossos, o amor espiritualizado nos leva a cuidar de todos. Essa é a maternidade mais elevada: acolher a humanidade com os braços da alma.

Em busca do amor maior

O instinto materno é uma das manifestações mais nobres da alma humana. É, sim, apoiado por mecanismos biológicos e hormonais, mas ultrapassa o corpo e floresce no espírito.

O Espiritismo nos ensina que, enquanto encarnados, não somos apenas corpo, nem apenas mente — somos consciência em processo de elevação, desenvolvendo, pouco a pouco, as sementes do amor divino que trazemos em nós.

Que todas as expressões do amor maternal — biológicas ou espirituais, femininas ou masculinas — sejam valorizadas como degraus na construção do amor maior, que é a meta de todos nós.

 

Ivan Franzolim



Um comentário:

O diálogo é a melhor forma de comunicação e a comunicação é o canal do conhecimento.