Quando surgem incertezas elas exigem
reflexão
para o restabelecimento da harmonia mental
para o restabelecimento da harmonia mental
Foto de: www.chronicle.com/article/Beyond-Critical-Thinking/63288 |
Estive lendo alguns
livros e vendo documentários sobre vários assuntos, particularmente a respeito
do cosmos, da história, da ciência e sobre alguns dos quase 200 países que
desconhecemos por completo ou temos uma rápida e muito superficial visão.
Os
documentários sobre nações destacam os pontos positivos e os problemas
de cada nação. Problemas graves que estão sendo atenuados por diversas frentes
de voluntariado, ligadas a várias religiões e também independentes. Trabalhos relevantes
que podem servir de inspiração aos espíritas.
Sobre o Brasil,
quantas regiões diferentes, culturas distintas, problemas gravíssimos que
perduram há anos reclamando ações mais efetivas de voluntários e que os
espíritas se esforçam em algumas poucas áreas. No ranking internacional de
2016, o Brasil alcançou a modesta posição de 83° lugar entre os países em que os cidadãos
são mais generosos com os mais necessitados. Dado que parece distar do país
designado para ser a “pátria do evangelho”.
Com relação ao
espaço universal, o conhecimento existente, ainda escasso, mostram números
verdadeiramente astronômicos. Estima-se que o universo observável por nossos
equipamentos, deve ter mais de 200 bilhões de galáxias, cada uma com mais de 100
bilhões de estrelas.
A ciência,
costumeiramente criticada pela religião, avança no conhecimento esbarrando na
fronteira entre o real e o fantasioso: big
bang, curvatura do tempo, teoria das cordas, multiverso, matéria escura,
buraco negro, antimatéria, dualidade onda-corpúsculo.
Isso sem falar nos
avanços científicos impondo mudanças no nosso cotidiano que nem prestamos mais
atenção: tecnologia dos chips, das comunicações, a genética interferindo na
eliminação ou atenuação das doenças, no retardamento do envelhecimento, e na
agricultura.
Essas
informações fazem-me fazem sentir como um minúsculo grão de areia, munido da
certeza que temos uma imensidão de oportunidades para o aprimoramento dos
nossos conhecimentos em todos os sentidos, inclusive o espírita.
E a história? Persisti
em nos alertar sobre o erro que a civilização sempre incorreu e ainda não
aprendeu: sentir-se o maior, o melhor, o único verdadeiro em todas as áreas, no
poder, na política, no conhecimento, na religião, etc.
O espiritismo
compreende a divindade como um único Deus, realmente como o próprio nome
denuncia: todo-poderoso, inteligência, sabedoria e generosidade totais. Não
parece coerente com esses atributos, um Deus que restrinja a um povo, uma
região, uma época, uma religião, uma pessoa, o privilégio do acesso às leis
morais melhor elaboradas.
A partir de uma
visão de marketing, podemos enxergar o mundo como um grande mercado que
apresenta bens e serviços para todo o tipo de público. É verdade que temos
produtos ruins, mas também possuímos aqueles de ótima qualidade. Vejamos, por
exemplo, as geladeiras. Existem várias marcas, variando no design, cores e
algumas funcionalidades, resolvendo nossa necessidade de conservar e gelar
alimentos e bebidas.
Por que nos
acostumamos a pensar que as verdades morais mais completas se encontram apenas
no espiritismo? Precisamos nos
envolver em uma onda de humildade e questionar algumas colocações espíritas que
soam aos ouvidos leigos como arrogantes. Não só pela preocupação com a imagem
externa da doutrina, mas pela perturbação que esses pensamentos podem ocasionar
em nosso modo de pensar e agir.
Pensamentos como:
somos a terceira revelação, o consolador prometido, continuador do verdadeiro
cristianismo, a chave para revelar o conhecimento de Jesus, a verdadeira
doutrina de Jesus. São expressões oriundas das melhores intenções, mas também
ufanistas independentemente da suposta autoridade de quem as manifeste. Não é
por essas afirmações que a Doutrina Espírita deve ocupar um lugar de respeito
na sociedade, mas pela consistência de seus ensinamentos e das consequências
morais advindas.
Neste momento
de dúvidas dou razão a Sócrates apresentado por Platão quando salientou que “Sábio é aquele que conhece os limites da
própria ignorância” ou “Só sei que
nada sei”. Lembro também de alguns pensamentos de outro filósofo bem mais
recente, Bertrand Russell: “Não tenhas
certeza absoluta de nada”. “O problema
do mundo é que tolos estão sempre cheios de certezas, enquanto os sábios estão
sempre cheios de dúvidas”.
A Doutrina
Espírita sendo recente, com menos de 200 anos, teve o mérito de reunir e dar
sentido a muitos conhecimentos que já existiam no mundo, distribuído por
filosofias, ciências, religiões. Desenvolveu alguns, estabeleceu conexões com
outros, demonstrou consequências.
Podemos chamar
genericamente esses conhecimentos como “verdades”. Assim, é possível afirmar
que o espiritismo contém muitas, mas não tem todas as “verdades”. Além disso, o
fato de considerarmos que temos um acervo maior de “verdades” que outras
doutrinas, não nos isenta de convivermos com erros, omissões e interpretações
equivocadas.
O espiritismo é
uma doutrina racional de questionamento, baseada na lei de evolução. Não foi
apresentada completa, acabada, mas com uma estrutura forte o suficiente para
permitir o seu desenvolvimento.
Por isso, talvez
seja melhor tratarmos as controvérsias surgidas na apreciação do conhecimento
espírita, como hipóteses que carecem de confirmação como verdadeiras, do que
como infidelidade doutrinária. Aliás, essa expressão é própria de um
conhecimento estático, que não evolui.
O espiritismo
não é uma religião salvacionista, apesar de adotar como instrumento de
comunicação a frase: “fora da caridade não há salvação”. Na doutrina espírita
não existem listas do que você pode ou não fazer. Há orientações baseadas nas
leis espirituais estudadas.
Diferentemente das
outras religiões, nossa doutrina afirma que o mais importante são as ações em
harmonia com as leis naturais, não a religião que cada um assume.
Isso significa
que não devem ser considerados como errados, os grupos espíritas que prefiram
vivenciar os ensinamentos pelo caminho da filosofia, da ciência, da religião,
da pedagogia, da mediunidade, etc.
Essas
diferenças de foco são benéficas, à medida que atingem pessoas, que não seriam
afetadas por uma única maneira de enxergar a doutrina. Lembram das boas geladeiras?
Naturalmente
precisamos nos esforçar para debater as diferenças de entendimento visando o
aprofundamento e a consolidação gradual do conhecimento espírita.
Para isso será
preciso uma postura mais crítica de todos os espíritas, fundamentada em pelo
menos dois critérios básicos: a lógica e a fraternidade. Não basta ter opinião.
É preciso ter ou buscar argumentos solidamente conectados com o conhecimento
espírita. As opiniões que incorrem em mudar a forma como entendemos ser correta
a doutrina, raramente possuem a humildade de se apresentar como uma proposição
de trabalho convidando todos a esmiuçarem suas possibilidades.
As obras de
Kardec são a base, e temos o desafio de imprimir amplo e profundo debate a todas
as mudanças apresentadas por meio dos livros e da manifestação dos espíritas
nas mídias sociais até sua concordância ou rejeição por linhas de raciocínio
irrefutáveis logicamente e libertas de argumentos falaciosos. Não é fácil, mas
é o único caminho.
Esses são
apenas pensamentos em momento de dúvidas pedindo reflexão. E você caro leitor,
quais são os seus?
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