Mais que Biologia, um Legado do Espírito
Por que tantas mulheres
desenvolvem profundo amor maternal mesmo sem terem gerado um filho? Como
explicar a presença desse instinto em espíritos que alternam entre encarnações
masculinas e femininas? Seria tudo apenas uma questão hormonal, ou há algo mais
profundo envolvido?
A Doutrina Espírita oferece
chaves valiosas para compreendermos o instinto materno como um fenômeno
que ultrapassa o campo biológico. Trata-se de uma expressão afetiva e moral
da alma, construída ao longo de diversas existências, que se manifesta
tanto em mães biológicas quanto adotivas — e até mesmo em pessoas que jamais
tiveram filhos.
O instinto e sua origem
espiritual
O Livro dos Espíritos define o instinto como uma “espécie de inteligência sem
raciocínio” (q. 75). É uma forma de sabedoria inconsciente, fruto da
experiência acumulada do Espírito, que se manifesta como impulso natural de
proteção e cuidado.
No caso do instinto materno, trata-se de uma tendência afetiva desenvolvida em vidas anteriores, especialmente nas encarnações femininas, mas não limitada a elas. Mesmo um espírito que acaba de encarnar em corpo feminino, vindo de existência masculina, pode trazer em si registros profundos do sentimento maternal.
Hormônios e alma: uma
parceria complexa
A ciência comprova que hormônios
como a ocitocina e a prolactina desempenham papel importante na
ligação entre mãe e filho, especialmente após o parto. No entanto, há algo que
os hormônios não explicam: o amor maternal desenvolvido por mães
adotivas, mulheres que nunca engravidaram, ou mesmo por homens
sensíveis ao cuidado e à proteção do próximo.
Isso acontece porque o instinto materno não depende exclusivamente da biologia. Ele está inscrito no perispírito, moldado pelas experiências reencarnatórias do espírito e pronto para se manifestar sempre que a vida oferecer essa oportunidade.
A alternância de sexos e o
aprendizado afetivo
A reencarnação proporciona ao
Espírito a vivência em diferentes papeis — homem, mulher, pai, mãe, filho. Essa
alternância é necessária ao progresso completo do ser, como ensinam os
Espíritos a Kardec (LE, q. 200).
Assim, mesmo que alguém esteja encarnado como mulher pela primeira vez após diversas vidas masculinas, poderá desenvolver rapidamente um instinto materno já latente — ou seja, presente, mas adormecido, à espera das condições adequadas para aflorar.
Mães sem filhos: o amor sem
limites
O Espiritismo reconhece o valor
e a grandeza de mulheres que, mesmo sem experiência biológica da maternidade, expressam
o amor maternal em sua forma mais elevada. São mães do coração, do
acolhimento, da escuta, da entrega silenciosa.
Essas mulheres provam que a maternidade não está restrita ao útero, mas se expande no coração.
Instinto, sentimento e
evolução
O Espiritismo propõe que o
instinto é apenas o ponto de partida. A meta é transformar o impulso em
virtude — o instinto em amor consciente, abnegado e universal.
Assim como o instinto materno nos leva a cuidar dos nossos, o amor espiritualizado nos leva a cuidar de todos. Essa é a maternidade mais elevada: acolher a humanidade com os braços da alma.
Em busca do amor maior
O instinto materno é uma das
manifestações mais nobres da alma humana. É, sim, apoiado por mecanismos
biológicos e hormonais, mas ultrapassa o corpo e floresce no espírito.
O Espiritismo nos ensina que,
enquanto encarnados, não somos apenas corpo, nem apenas mente — somos consciência
em processo de elevação, desenvolvendo, pouco a pouco, as sementes do amor
divino que trazemos em nós.
Que todas as expressões do amor
maternal — biológicas ou espirituais, femininas ou masculinas — sejam
valorizadas como degraus na construção do amor maior, que é a meta de
todos nós.
Ivan Franzolim