quinta-feira, 12 de junho de 2025

Ensaio para um Planejamento Estratégico do MEB

O Espiritismo será o que o fizerem os homens.
Léon Denis, No Invisível, 1901.


Análise do Censo 2022 com Foco no Espiritismo

A verdade é que o MEB não soube aproveitar o favorecimento da mídia com romances, novelas e filmes de temática espírita. Assim como não conseguiu trazer para a Doutrina um contingente mínimo das milhões de pessoas que frequentam as casas espíritas e leem os seus livros sem se declarar espíritas.

A queda dos espíritas de 2,2% para 1,84% entre os dois últimos Censos do IBGE, está tendo um impacto grande  no MEB. E essa reação talvez seja o remédio que nós precisávamos para nos mobilizar e atuar seriamente para reverter essa situação.

Nada fazer será uma omissão, uma negligência, que provavelmente pesarár em nossas conciências. 

Análise Sociológica

O Espiritismo continua sendo um movimento com forte presença em classes médias urbanas, com elevada escolarização e renda. Isso o distancia de camadas populares — o que limita seu alcance social. Seu discurso racionalista e moralizador atrai segmentos com maior capital cultural, mas pode parecer distante para públicos que buscam experiências religiosas mais emocionais, afetivas ou comunitárias.

O desafio será adaptar a linguagem e práticas para manter a base doutrinária sem parecer exclusivista ou elitista. 

Análise Educacional

O Espiritismo possui o maior percentual de adeptos com ensino superior completo (48%) e o menor número com ensino fundamental incompleto (11,3%). Isso reforça sua identidade como doutrina de estudo, razão e ética.

Consequência paradoxal: quanto mais escolarizado o público, mais crítico e, por vezes, menos institucionalizado — o que pode explicar o afastamento de muitos que simpatizam com os princípios, mas não gostam de frequentar os centros. Considerar que cerca de 50% das casas espíritas não estão vinculadas a uma federativa da FEB, também pode denunciar um certo cansaço das instituições.

Análise Econômica

A maior renda entre os espíritas permite uma boa estrutura física dos Centros, muitos com sede própria, bibliotecas, projetores, notebooks e cursos. Contudo, falta maior engajamento com realidades sociais mais vulneráveis. O Espiritismo ainda não alcançou populações de baixa renda, o que reduz seu impacto transformador no tecido social.Trabalhar ações sociais ajuda, mas não é uma ponte de aproximação e vivência real com esse público. 

Análise Demográfica

A idade média dos espíritas é a mais alta entre os grupos religiosos, com crescimento progressivo nas pesquisas e no Censo. Isso indica um processo de envelhecimento e pouca renovação geracional. A Pesquisa Nacional Espírita mostra esse crescimento alcançando em 2025,  a média de 55 anos.

A participação do sexo masculino é a menor entre as religiões, o que vem sendo também demonstrado pela Pesquisa Nacional Espírita desde 2015.

É um fato que exige ações planejadas. Se não houver uma ação estratégica de engajamento de jovens, o movimento pode perder continuidade institucional e capacidade de renovação. A dificuldade maior será de despertar o interesse dos jovens, nascidos em uma sociedade superficial e consumista.

Por que os Jovens se Afastam das Religiões?

Esses jovens, que não foram seduzidos pelos apelosde resolução imediata, podem estar buscando uma espiritualidade distante das convenções religiosas, da devoção, do apelo da salvação. Neste caso, o Espiritismo tem muito a oferecer por meio da sua lógica, do apelo à razão, fundamentado em uma filosofia abrangente e cosistente.

Cor e Raça

O Espiritismo apresenta a menor participação de pessoas pretas entre os quatro maiores grupos religiosos. Isso denuncia uma histórica barreira sociocultural e simbólica que precisa ser encarada com honestidade.

Reflexão necessária: é preciso tornar os espaços espíritas mais abertos, diversos e acolhedores, para todos. Ter uma participação mínima desse segmento em um país onde ele predomina é preocupante.

 

Geografia e Distribuição

Os maiores percentuais de espíritas continuam nos estados do Sudeste e Sul: RJ, SP, DF, RS e GO. Os menores estão no Norte e Nordeste, com destaque para o Maranhão (0,19%), Pará (0,37%), Amazxonas (0,38%) e Piauí (0, 43%), não atingindo meio percentual. Temos 21 estados com participação dos espíritas menor que a média Brasil de 1,84%. Essa situação perdura há décadas, sem percepção da existência de ações para melhorar esses índices.

Mais da metade dos 5.570 municíopios do país, não possuem registro da existência de Centro Espírita.

O desafio será ampliar o alcance doutrinário por meio de projetos regionais, respeitando as culturas locais.

 Tecnologia e Internet

Com 96,6% de acesso à internet, os espíritas são o grupo religioso mais conectado. Isso abre caminho para estratégias digitais consistentes de divulgação, ensino, encontros e acolhimento.

Os espíritas possuem uma forte presença na internet e nas redes sociais, o que pode ter contribuído para atenuar a redução dos espíritas.

É um ponto forte, positivo que deve ser mais bem aproveitado. Estabelecer uma união de propósitos entres os grupos vituais, criando conteúdos significativos, atrativos e interativos nas redes, especialmente voltados aos jovens e aos “espiritualizados sem religião”.

 

Religiões Concorrentes

Os evangélicos continuam crescendo, mas em ritmo menor. Têm forte apelo emocional (algumas vezes próximos de uma manipulação), é comunitário e acolhedor — especialmente entre os jovens.

Os católicos reduziram perdas, talvez pela renovação litúrgica e social. Devemos considerar que boa parte dos brasileiros se declaram católicos, maia por tradição e costume familiar, mas não são verdadeiramente praticantes nem conchecedores de sua própria religião.

Os “Sem religião” passaram de 8,2% para 9,3%. São geralmente jovens/adultos, urbanos e críticos das instituições religiosas — mas nem sempre ateus. Constituem quase cinco vezes os espíritas. Esse pode er um público que busque algo novo, fora das tradições religiosas, que o Espiritismo pode oferecer.

O Espiritismo parece competir menos com outras religiões e mais com a tendência de desinstitucionalização (desgastes das instituições).

 Empenho geral

Todos estão convocados para contribuir em suas intstituições espíritas e individualmente por meio da participação do debate público pela internet. Caminhos devem ser encontrados! Alguns de aplicação geral, outros específicos para as diferentes realidades do país. O impacto foi grande, mas também nos impulsiona para a busca de soluções.

 

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Espiritismo no Censo 2022: Hora de Acordar para o Futuro

Dados censitários de 2022 revelam que os espíritas reduziram no Brasil. 


Principais grupos religiosos no Brasil

Censos

1991

2000

2010

2022

Dif..

Espírita

1,12%

1,38%

2,1%

1,8%

-0,3%

Católicos

83,0%

73,8%

65,1%

56,7%

-8,4%

Evangélicos

9,0%

15,4%

21,6%

26,9%

5,2%

Umbanda e Candomblé

 

 

0,3%

1,0%

0,7%

Sem religião

4,7%

7,9%

8,2%

9,3%

1,4%

 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados sobre religião do Censo 2022. Os números confirmam o que temos percebido nas últimas edições da Pesquisa Nacional Espírita, que realizo desde 2015: o Espiritismo, embora continue sendo o terceiro maior grupo religioso do país, começa a apresentar sinais preocupantes de retração. A queda de 0,3 ponto percentual em relação ao Censo anterior (de 2,1% para 1,8% da população) pode parecer pequena, mas reflete um movimento mais profundo de enfraquecimento institucional e perda de vitalidade espiritual nas bases.

Essa retração é mais evidente em estados com forte tradição espírita como Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal, que concentram o maior número absoluto de espíritas no país. Dos 27 estados, 16 apresentaram decréscimo na proporção de espíritas. Paralelamente, o perfil demográfico da população espírita vem envelhecendo: a idade média dos adeptos, que era de 53 anos nas nossas pesquisas, chegou a 55 anos em 2025. A participação de jovens continua em queda, e muitos Centros Espíritas ainda não encontraram caminhos efetivos para acolhê-los, compreendê-los e envolvê-los.

Os dados do IBGE, no entanto, também revelam forças expressivas do movimento: o Espiritismo é o grupo religioso com maior nível de escolaridade (48% dos espíritas possuem ensino superior completo), a menor proporção de indivíduos sem instrução ou com ensino fundamental incompleto (11,3%) e o maior acesso à internet (96,6%). Isso significa que temos um público altamente capacitado, com acesso à tecnologia e capaz de produzir conteúdo e ações de grande alcance — mas ainda não conseguimos transformar isso em impacto coletivo efetivo.

A impressão que tenho — embora careça de confirmação estatística — é que a participação dos espíritas nas redes sociais é, proporcionalmente ao seu número, talvez uma das mais expressivas entre os grupos religiosos. Isso representa uma nova trilha, um outro modo de fazer Espiritismo: mais conectado, mais aberto, mais humanizado e mais voltado à formação de consciências, não necessariamente à filiação religiosa. O Espiritismo, afinal, não precisa converter, mas sim convidar à reflexão, ao autoaperfeiçoamento e à reforma íntima.

A estagnação dos católicos e o crescimento mais lento dos evangélicos também indicam que o cenário religioso brasileiro está em mutação. Os evangélicos continuam crescendo (especialmente entre os jovens), mas em ritmo menor. Já os que se declaram “sem religião” passaram de 8,2% para 9,3%. Esse grupo — diverso, aberto, muitas vezes espiritualizado, mas desconectado das religiões tradicionais — pode representar uma grande oportunidade. Kardec foi claro: não se deve oferecer o Espiritismo àqueles que já estão satisfeitos em sua fé. Mas há muitos que buscam sentido, consolo, ética e coerência — e o Espiritismo pode ser uma luz acolhedora para esses corações inquietos.

 Os espíritas possuem a maior participação feminina

Religião - Mulheres

2010

2022

Católica Apostólica Romana

50,4%

51,0%

Evangélicas

55,6%

55,4%

Espírita

58,9%

60,6%

Umbanda e Candomblé

55,3%

56,7%

Sem religião

40,8%

43,8%

 Além disso, é urgente ampliar as ações voltadas às populações com menor renda e escolaridade. O Espiritismo, embora historicamente associado a camadas mais instruídas da sociedade, precisa cumprir seu papel social com mais coragem. Falar simples não é falar menos; é alcançar mais. Transmitir a beleza da vida espiritual, a justiça da reencarnação e a esperança da continuidade da existência exige empatia, linguagem acessível e escuta sensível.

Ser a religião com a maior participação do sexo feminino (60,6%) nos remete à conclusão que a falta do público masculino deva ser fruto de uma ausência de ações de engajamento.

Por tudo isso, é hora de deixar claro: continuar fazendo o mesmo de sempre não nos levará a um futuro melhor. Precisamos de um planejamento estratégico do movimento espírita nacional — com foco na juventude, na comunicação digital, na atuação social e na formação doutrinária séria, porém viva e contextualizada. Precisamos resgatar a essência da mensagem espírita: uma doutrina de amor, esperança e responsabilidade, capaz de iluminar consciências mesmo sem necessariamente atrair novos “adeptos”.

Se não nos mexermos agora, a tendência é que o Espiritismo se torne cada vez mais um reduto de poucos, envelhecido e alheio às dores e buscas do mundo moderno. Mas se tivermos vontade de mudar — de ousar o novo sem perder a essência — o futuro ainda pode ser promissor.

 Distribuição dos espíritas nos estados

Os estados que mais reduziram o número de espíritas foram aqueles que mais espíritas possuem: RJ, DF, SP, RS e GO. Destaque para Rio de Janeiro que tem mais do dobro de espíritas do que a média Brasil (1,8%).

Chama a atenção os estados que tradicionalmente possuem menos espíritas e ainda assim, reduziram: TO, AC, RO, AM e PA. Maranhão é o estado com menor número de espíritas e se mantem em 0,19%.

Em resumo, temos 11 estados com resultado igual ou superior ao ano passado e 16 com decréscimo.

 

Estados / Censos

1991

2000

2010

2022

Cresc.

Rio de Janeiro

1,99%

2,76%

4,05%

3,53%

-0,52%

Distrito Federal

2,81%

2,80%

3,50%

3,27%

-0,23%

São Paulo

1,78%

2,05%

3,29%

2,90%

-0,39%

Rio Grande do Sul

1,48%

2,14%

3,21%

2,86%

-0,35%

Minas Gerais

1,38%

1,35%

2,14%

2,16%

0,02%

Goiás

2,53%

2,81%

2,46%

2,10%

-0,36%

Mato Grosso do Sul

1,36%

1,20%

1,90%

1,68%

-0,22%

Santa Catarina

0,53%

0,85%

1,58%

1,62%

0,04%

Paraná

0,55%

0,66%

1,04%

1,50%

0,46%

Pernambuco

0,88%

1,16%

1,41%

1,23%

-0,18%

Sergipe

0,50%

0,87%

1,08%

1,12%

0,04%

Mato Grosso

0,77%

1,33%

1,25%

1,09%

-0,16%

Bahia

0,54%

0,74%

1,13%

1,00%

-0,13%

Rio Grande do Norte

0,33%

0,28%

0,78%

0,92%

0,14%

Espírito Santo

0,65%

0,56%

1,04%

0,90%

-0,14%

Alagoas

0,23%

0,40%

0,55%

0,65%

0,10%

Roraima

0,38%

0,31%

0,91%

0,64%

-0,27%

Paraíba

0,24%

0,37%

0,62%

0,64%

0,02%

Ceará

0,21%

0,44%

0,55%

0,57%

0,02%

Tocantins

0,42%

0,45%

0,65%

0,55%

-0,10%

Acre

0,35%

0,19%

0,57%

0,55%

-0,02%

Rondônia

0,29%

0,53%

0,57%

0,55%

-0,02%

Amapá

0,18%

0,08%

0,42%

0,51%

0,09%

Piauí

0,09%

0,11%

0,32%

0,43%

0,11%

Amazonas

0,17%

0,46%

0,42%

0,38%

-0,04%

Pará

0,31%

0,54%

0,45%

0,37%

-0,08%

Maranhão

0,07%

0,08%

0,19%

0,19%

0,00%

 Os dados sobre religião do Censo 2010 foram divulgados pelo IBGE no final de junho de 2012 e do Censo 2022 em junho de 2025.

Ivan Franzolim – pesquisador espírita