O paradoxo da comunicação
Ao mesmo tempo em que valorizamos a comunicação
também criamos obstáculos a ela.
O diálogo é o melhor
exemplo de comunicação, porque nele duas pessoas colocam em ação toda sua força
de comunicação, vendo, ouvindo, sentindo e interagindo uma com a outra. Cada
indivíduo é sempre transmissor e receptor em um ato comunicativo.
Curioso que nessa
época em que a tecnologia e a cultura mundial dinamiza a comunicação como nunca
a humanidade tinha imaginado, gerando interação e compartilhamento de ideias
entre milhões de pessoas em todas as partes do mundo, agimos de modo oposto dificultando
ou apenas desprezando o potencial de comunicação.
Essa despreocupação
em ouvir o próximo é uma característica na maioria dos Centros Espíritas. No
inconsciente talvez prevaleça a concepção de que temos uma religião para ser
transmitida e seguida e não um conhecimento organizado, inconcluso e evolutivo
que depende da interação das pessoas para sua evolução, isto é, da liberdade de
expor raciocínios, de receber críticas, de questionar, de argumentar a favor e
contra ideias.
Parte significativa
dos Centros ainda não se deu ao trabalho de oferecer um simples serviço de
informações aos visitantes ou um espaço para que os frequentadores possam se
expressar. Na área doutrinária persiste as casas que mais doutrinam do que
esclarecem os espíritos nas reuniões de desobsessão.
O Centro Espírita é
uma instituição totalmente voltada para o monólogo. Isso é tão marcante, tão
cultural que nos poucos momentos em que se abre espaço para as pessoas
perguntarem, como em palestras e nos cursos, a grande maioria não se manifesta.
Essa tendência
cultural de não exercitar uma comunicação mais plena, interagente, acaba
predominando até quando passamos a usar a Internet, com seus poderosos recursos
de comunicação.
Assim, quando
visitamos os "sites" de instituições espíritas, como: associações,
editoras, distribuidoras, jornais, revistas, rádios, TVs e portais, recebemos
convite para conhecermos suas páginas em blogs, redes sociais, e seguirmos via
twitter, mas nem sempre encontramos uma página que informe que instituição é
essa, quais são seus objetivos, quem está na sua gestão, onde está localizada e
um simples e funcional endereço de e-mail.
No lugar do e-mail,
a instituição oferece uma página para você digitar sua mensagem. Nessa página o
leitor é obrigado a dar informações que ele não forneceria normalmente, como o
nome, endereço, telefone e até o número da carteira de identidade.
O que ela transmite
com isso? Que somente ela deseja comunicar algo e não tem interesse no que você
poderia desejar comunicar. Segundo, que ela quer saber o seu e-mail, quem é
você, onde você mora, mas não quer que você conheça as mesmas informações a respeito
dela.
Essa é uma atitude
impensada e copiada de páginas de grandes empresas, com a ilusão de estar
fazendo uma boa e moderna comunicação. Contudo, é uma atitude eticamente
incorreta que limita e cria embaraços nos relacionamentos imprescindíveis para
a consecução dos objetivos institucionais.
Por trás desse
comportamento reside a tendência de se entender a comunicação apenas com o
objetivo de persuadir, de convencimento, esquecendo-se que a melhor comunicação
é aquela aberta ao aprendizado, despretensiosa, que os interlocutores objetivam
compartilhar ideias e aprender, enquanto esse tipo de comunicação atualmente
praticada é egoísta visando apenas os interesses da organização.
Essa forma de se
comunicar pode ser compreensível nas empresas privadas voltadas para o lucro,
mas não nas instituições espíritas que deve se pautar por um comportamento
ético, fraterno e transparente.
Ivan Franzolim
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O diálogo é a melhor forma de comunicação e a comunicação é o canal do conhecimento.